Leonor Beleza sai de cena e oposição atira-se ao governo

Gestora não está disponível para diminuir presença na Fundação Champalimaud.

A exclusão do nome de Leonor Beleza da lista que foi apresentada ao Banco central Europeu (BCE) para os órgãos sociais da Caixa Geral de Depósitos causou desconforto na presidente da Fundação Champalimaud, que se manifestou “surpreendida” com a decisão conhecida ontem.

Em declarações à Lusa, a antiga ministra de Cavaco Silva explicou ainda que não irá abdicar das funções que tem na fundação. “Desde o início tornei também claríssimo que não estava nem estou disponível para pôr em causa ou diminuir de intensidade o meu envolvimento como presidente da Fundação Champalimaud, missão que me foi confiada em testamento por António Champalimaud”, disse Beleza.

Esta posição da gestora deixa subentendido que Beleza não aceitará ser convidada de novo para a administração da CGD, mesmo que a legislação seja alterada para permitir que os administradores não executivos possam acumular outras funções inibidas pelo regime bancário em vigor.

Fontes próximas da gestora confirmaram ao i que, se a ida para a CGD implicar mudanças na fundação, a gestora não aceitará a nova função. E um dos entraves colocados pelo BCE aos oito administradores não executivos com outras funções é precisamente a disponibilidade desses gestores para acompanhar em permanência a atividade da CGD. Ao rejeitar a possibilidade de se afastar da fundação, o caminho da CGD deixa de ser uma opção.

Chuva de críticas O anúncio da posição do BCE gerou uma carga de críticas ao governo, pela direita. Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, afirmou que “esta decisão do BCE atesta que a trapalhada que tem rodeado todo o processo de gestão da CGD teve um novo episódio e é também ao chumbo ao próprio governo, ao dizer que não está a aplicar a sua própria lei”.

“Este processo é um autêntico manual de tudo aquilo que não deve ser feito e um hino à incompetência, à ligeireza e à displicência do governo. É embaraçoso e humilhante para o Estado português”, atirou o social-democrata.

Pelo CDS, Pedro Mota Soares defendeu que o governo deveria aproveitar esta “oportunidade” para reduzir o número de administradores da Caixa e não aumentar os vencimentos dos administradores. “É penoso que tenha de ser o BCE a impor o bom senso que o governo de Portugal manifestamente não teve. Aumentar o número de administradores da Caixa Geral de Depósitos, aumentar o salário dos administradores da Caixa Geral de Depósitos quando se está ainda a pedir tantos sacrifícios aos portugueses e se vai pedir sacrifícios aos trabalhadores da Caixa é um total contrassenso”, afirmou.

BE e PCP querem limite de cargos Nos partidos à esquerda que apoiam o governo, as reações foram mais contidas. O BE defendeu uma lei que limite o número de cargos acumulados. “O Bloco de Esquerda defende uma lei que restrinja, discipline e limite o número de cargos que possam ser acumulados de forma transversal, tanto para o público como para o privado, mas não apoia uma lei que deixe tudo como está e permita a acumulação atualmente existente, e ainda crie por cima disso uma exceção para os administradores da CGD”, afirmou Mariana Mortágua.

O PCP lamentou que o BCE tenha voltado a decidir sobre matérias relevantes para o país, mas reiterou as críticas ao processo de nomeação dos administradores do banco público. “Qualquer alteração que vá no sentido de consolidar esta ideia de podermos ter no banco público um gestor que depois possa acumular com muitas outras responsabilidades, em áreas nomeadamente do setor privado, nós não estaremos de acordo com isso”, disse o deputado Jorge Pires.