À mesma hora em que Passos Coelho chegava à festa do Pontal, em Quarteira, o ex-líder do partido Marques Mendes aconselhava o PSD a afinar a estratégia e «a mudar» o discurso. «OPSD tem tido um discurso muito derrotista. O discurso tem que ser diferente. Tem que ser crítico, mas ao mesmo tempo tem que gerar esperança», disse Mendes no seu habitual comentário na SIC.
Uns minutos depois, Passos Coelho subia ao palco para decretar que a atual solução de governo «está esgotada» e «não tem mais nada para oferecer» do ponto de vista económico e social. Os que esperavam ouvir sinais de que o líder do PSD estaria disponível a alterar a estratégia ficaram desiludidos. «Esta rentrée foi um flop», diz ao SOL o social-democrata Guilherme Silva.
‘Não se vê alternativaao Governo’
O ex-líder parlamentar do PSD alinha com Marques Mendes e lamenta que Passos se limite a apresentar uma visão pessimista do país. «Não se vê alternativa. Não se vê a alternativa que os portugueses esperam. Acho que o discurso pecou por ser incompleto, porque focou apenas a parte derrotista e pessimista e não é isso que faz parte da história do PSD, que tem sabido em cada momento dar uma resposta aos portugueses. Estou ciente de que os portugueses não estão a gostar deste caminho seguido pelo governo mas não veem uma alternativa consistente”, diz Guilherme Silva.
Os socialistas aproveitaram a embalagem para colar Passos à imagem do pessimista que só prevê desgraças, mas os mais próximos do presidente do partido não veem razões para mudar a estratégia. «As coisas não vão correr bem ao Governo. É uma questão de tempo. Temos que aguardar as cenas dos próximos capítulos em termos de performance governativa», diz um deputado social-democrata.
Aos que pedem ao PSD para apresentar mais propostas, o presidente da distrital de Lisboa responde com uma pergunta: «É preciso ideias novas quando o PSD ganhou as eleições há uns meses, com um programa que tem propostas muito claras?». Pinto Luz considera que «o programa do PSD não podia estar mais atual».
Com mais ou menos críticas, Passos nunca viu a sua liderança ameaçada e ninguém imagina que surja alguma alternativa interna antes das eleições autárquicas, em outubro do próximo ano. «Até lá, Passos Coelho está completamente à vontade», garante um ex-governante.
Derrota nos Açores e sem ‘ilusões’ nas autárquicas
Para António Leitão Amaro, vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, o «tema da liderança de Passos Coelho é um tema que não existe». Ao contrário de Marques Mendes, que prevê «uma crise interna ou uma crise de liderança» se Passos não ganhar as autárquicas, Leitão Amaro, em entrevista ao SOL (ver pág. 8), não vê razões para colocar em causa a liderança, porque o atual líder «é a pessoa mais bem preparada» no partido para se candidatar a primeiro-ministro nas próximas legislativas.
Um dos nomes apontados como possíveis candidatos à liderança, Luís Montenegro, também já veio dizer que «a cabeça de Pedro Passos Coelho não está em causa». O próprio líder social-democrata, em entrevista ao SOL, em abril, quis deixar claro que «as eleições autárquicas não são um teste à liderança de um partido».
As batalhas eleitorais que se aproximam não serão fáceis para o PSD. As eleições nos Açores, marcadas para 16 de outubro, são dadas como perdidas dentro do partido. Nas autárquicas também não são esperadas facilidades e, em entrevista à Antena 1, Luís Montenegro já avisou que «não vale a pena ter ilusões» porque será «difícil» vencer.
O ponto de partida não é, de facto, favorável ao PSD. Os socialistas têm mais 43 câmaras. Nas grandes cidades, como Lisboa e Porto, também se anunciam dificuldades. Na capital, o partido continua à espera da resposta de Santana Lopes, mas se o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa não avançar o partido terá dificuldades em arranjar um candidato forte. No Porto, Rui Moreira, que desta vez vai a votos com o apoio do PS e do CDS, tem a vitória praticamente certa.
Líder da oposição gregana Universidade de Verão
O PSD já tem, entretanto, programa para a Universidade de Verão. O evento, que decorre entre 29 de agosto e 4 de setembro em Castelo de Vide, conta com a presença de vários ex-ministros de Passos, como Maria Luís Albuquerque, Poiares Maduro, Moreira da Silva e Carlos Moedas. O destaque vai para a presença do líder da oposição grega e presidente do partido Nova Democracia, Kyriakos Mitsotakis. O socialista Jaime Gama vai participar num jantar conferência.