Vantagens do petróleo barato

O petróleo barato beneficia Portugal. Mas a oportunidade não está a ser aproveitada

Há dois anos o preço do barril de petróleo bruto (crude) ultrapassava os cem dólares. Entretanto desceu para menos de metade. Mas o barril de crude passou os 50 dólares em Junho; depois disso voltou a baixar – e mais tarde a subir de novo. Agora há quem espere que na reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em Setembro, a Arábia Saudita aceite reduzir a produção, para subir os preços. Mas o excedente de crude no mercado é tal que uma subida do preço para cerca de 70 dólares exigiria um corte brutal na produção. Improvável, portanto.

Por outro lado, o efeito cambial irá quase certamente encarecer o petróleo, cotado em dólares, para quem, como nós, está no euro. Quando a Reserva Federal dos EUA subir os juros, talvez ainda este ano, o dólar valorizar-se-á.  

A Agência Internacional de Energia prevê que em 2017 a procura mundial de petróleo suba menos do que o esperado, devido ao fraco crescimento económico. Em 2016 a procura de petróleo desce nos países grandes consumidores, como os Estados Unidos, a China e a Índia. É certo que a produção petrolífera caiu entretanto na Venezuela e na Nigéria, nomeadamente. Mas essa queda foi mais do que compensada por aumentos na produção no Iraque, no Irão e na Arábia Saudita (onde foi batido um record em Julho, para aumentar quota de mercado na luta dos sauditas contra o fracking americano). A novidade é que agora existe um excedente de produção não apenas no petróleo bruto mas, também, no mercado de refinados (gasolina, gasóleo, fuelóleo, jet fuel, nafta, etc.), como em Portugal sentimos nas últimas duas semanas. 

Um petróleo relativamente barato é positivo para a economia portuguesa, embora também tenha efeitos negativos. Entre estes encontra-se, claro, a situação em Angola, grande produtor petrolífero. As exportações portuguesas para Angola caíram para quase metade. E a vida tornou-se difícil para empresas nacionais a operar em solo angolano e para emigrantes portugueses, muitos dos quais ficaram desempregados e tiveram que regressar.

Importa, porém, colocar no outro prato da balança os benefícios para a economia portuguesa de um preço baixo do petróleo. O saldo é inequivocamente positivo, embora por cá se fale pouco disso. A importação de combustíveis minerais atingiu mais de 17 por cento do total das importações de bens por Portugal em 2014. Apesar do progresso das energias renováveis, em Portugal o petróleo nesse ano ainda abasteceu 44 por cento do consumo de energia primária (isto é, de todas as fontes de energia); e o gás natural, que tende a acompanhar a evolução dos preços do crude, forneceu 17 por cento do consumo energético nacional. 

Ao longo das últimas quatro décadas os melhores períodos da economia portuguesa estiveram ligados a fases de petróleo barato. Infelizmente, não parece estarmos a aproveitar essa vantagem, dinamizando o crescimento económico, desde que o barril de brent (a nossa referência para o crude) baixou para menos de 50 dólares em 2015. Pelo contrário, o crescimento abranda. 

A estratégia governamental de espevitar a economia estimulando o consumo privado não resulta, como muitos previam. E o desequilíbrio das contas externas não é maior porque o petróleo está barato – uma fraca consolação. Até porque ele poderá ficar menos barato.