O que custa entrar no ensino superior

Mudar de cidade e de rotinas para novos ambientes nem sempre é fácil. Há sempre o receio da adaptação, a saudade da família e dos amigos e o peso da responsabilidade. O i conversou com quatro estudantes que partilharam a sua experiência e recordações quando tiveram de fazer as malas para estudar no ensino superior

Pedro Teixeira
"Estou bastante ansioso por experimentar esta nova etapa"

Pedro Teixeira está a dias de fazer as malas e “abandonar” a cidade na qual vive desde sempre: Lamego. Aos 18 anos vai rumar à Invicta para estudar Medicina na Universidade do Porto e entrar “num mundo novo” onde tudo lhe “é estranho”. Por isso, confessa, está “bastante ansioso” para “poder experimentar esta nova etapa” da sua vida. Consigo leva “muitos” receios mas garante que tem “força” para o que vai encontrar: “uma nova rotina com novos conhecimentos, novos colegas e uma nova cidade”. 

Para matar saudades, Pedro Teixeira, conta ao i que está a planear ir a casa todos os fins-de-semana para “estar com a família e conviver com os amigos”, de quem vai sentir “bastante” a falta.

A dez dias de receber a notícia que foi aceite na universidade, Pedro Teixeira esteve por estes dias a procurar alojamento com a ajuda dos pais, como tantos outros estudantes que esperam entrar num curso. Depois de uma procura “bastante difícil” durante três semanas optou por alugar um apartamento para viver sozinho. Antes de tomar a decisão procurou alojamento através da internet em sites especializados de imobiliárias ou através do Facebook e chegou a ponderar viver na residência universitária. No entanto, explica Pedro Teixeira, “tinha que ficar na lista de espera dado que estava sobrelotada”. Por isso, o estudante deixa o conselho a todos os que partilham, neste momento, a sua experiência: “reúnam o máximo de anúncios possíveis e visitem todos”.

O caso do Pedro Teixeira é um dos exemplos em que estudar no ensino superior, fora da cidade natal vai representar para a família o custo de “sustentar uma segunda casa”, onde estarão incluídas, além da renda, as despesas mensais da água, luz, gás e viagens a Lamego. Com isso em mente, o estudante promete que tentará “ser o mais poupado possível” e que se vai “esforçar bastante para cumprir com êxito” esta nova etapa da sua vida. 

Joana Pereira
"Foi difícil no início habituar-me a estar longe da minha família"

Foi há três anos que Joana Pereira deixou Amarante, a sua cidade natal, para viver em Vila Real. Um processo que a estudante de Psicologia na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), com 20 anos, diz ter sido “difícil” no início mas com o passar do tempo “fui-me habituando”. É que “apesar de não estar muito distante” estava longe da família e “não tinha amigos” em Vila Real. “Sou uma pessoa muito agarrada aos laços familiares e de amizade” e isso, recorda, “pesou muito na mudança”. 

Também, na altura, não ajudou o facto de ter ido viver para uma residência e “ter de partilhar o espaço com alguém que não conhecia”, recorda ao i Joana Pereira. 

Mas foi com toda esta experiência que Joana diz ter desenvolvido “rapidamente” o “nível de maturidade e independência” ao ter a “responsabilidade” da suas escolhas, ter de gerir o dinheiro ou as compras. Sentiu na altura o peso do que era ser “responsável pelas minhas decisões, mas sobretudo pelas consequências que delas podiam advir”, lembra. 

Durante estes anos, Joana Pereira sempre viveu numa residência para “não gastar dinheiro desnecessário”. Mas por não ter acesso a uma cozinha para fazer as próprias refeições ponderou, por algum tempo, em alugar uma casa. Assim iria, explica, ter o seu espaço mas “os custos iam tornar-se enormes” e acabou por desistir da ideia. 

Olhando para trás e fazendo contas e mesmo de “gastar dinheiro por fora” em refeições, foram as viagens entre Vila Real e Amarante o custo mais elevado que suportou durante o curso. Isto porque Joana Pereira recebe a bolsa do Estado para estudar no ensino superior, tornando mais leve outras despesas como as propinas ou o alojamento. 

Mariana Fonrana
"Quis ir para Coimbra, para longe de casa, e não me arrependo"

“Quis ir para Coimbra para longe de casa e não me arrependo”, diz ao i Mariana Fontana. A estudante de Ciências Farmacêuticas na Universidade de Coimbra deixou a principal cidade algarvia, Faro, para estudar no ensino superior. 

Apesar da determinação em mudar de rotina e de cidade, Mariana Fontana confessa que teve receio de não se conseguir adaptar. “Ia para uma cidade nova, com outra dimensão e uma dinâmica completamente diferente”. 

Neste processo, a ausência da família e amigos “pesou bastante” e sublinha, que apesar de ter sido uma escolha sua “sente muito” a sua falta. 

A estudante optou por viver na residência universitária por “ficar muito próxima da faculdade”. Diz gostar “bastante” de lá viver e que, por isso, “não está a pensar partilhar casa”. 

Para conseguir um quarto na residência entrou em contacto com o gabinete que existe na sua universidade, especificamente para tratar dos alojamentos dos estudantes. 

A estudante algarvia diz que “nunca é fácil” suportar os custos de estudar no ensino superior envolvendo a mudança de cidade.

“No presente em que vivemos é uma dificuldade que atinge todas as famílias e exige o esforço de todos”, salienta a estudante.  

Fazendo contas, Mariana Fontana, diz que o seu maior custo é “sem dúvida” a alimentação e as viagens entre Coimbra e Faro.         

Sara Pires
"Foi a adaptação mais rápida que senti"

“A maior alteração foi a diferença de ritmos” entre cidades. É assim que Sara Pires recorda o que sentiu quando se mudou de Viana do Castelo para o Porto para tirar o curso de Assessoria e Tradução no Instituto Superior de Contabilidade e Administração (ISCAP). “Vim de uma cidade pequena para uma cidade bastante movimentada” mas, apesar desta alteração na velocidade da sua rotina diária, Sara Pires, de 20 anos, garante ao i que esta também foi a “adaptação mais rápida” que sentiu. 

Além das dificuldades de orientação numa cidade que lhe era estranha, a estudante teve, na altura, receio de “não ser aquilo que sempre imaginou” quando pensava em estudar numa cidade longe de casa dos pais. 

A falta dos amigos, explica, foi disfarçada pelas actividades organizadas pelo ISCAP para receber os novos alunos e “facilitar a sua adaptação e crianção de novas relações”. Isto fez com que, “graças a estas actividades” recorda, acabou por encontrar “uma família” longe da sua família. “O que me ajudou largamente a tornar a mudança de paradigma o mais suave possível”, garante. 

No processo de mudança de Sara Pires também terá ajudado o facto de estar a dividir um apartamento com uma amiga que já conhecia e que também é de Viana do Castelo. Além de aliviar as despesas mensais como a renda, água, luz, gás, Sara entende que “é importante a relação que se forma com as pessoas com quem partilhamos casa, pois são essas pessoas com quem vamos conviver a um nível mais pessoal”. 

Para procurar alojamento, inicialmente, Sara recorreu à internet mas acabou por encontrar pouca oferta. Foi então que decidiu rumar ao Porto para procurar pessoalmente, o que permitiu ver as condições da casa e conhecer pessoalmente os futuros senhorios.