Cristas. Cada vez mais longe do PSD para crescer ‘o mais que puder’

A líder do CDS está apostada em mostrar as diferenças do seu partido em relação ao PSD. A estratégia está toda pensada e vai ser posta em prática na rentrée do próximo sábado.

Assunção Cristas sabe que tem de marcar a agenda e distanciar-se do PSD se quer cumprir o objetivo de “crescer o mais que puder” que definiu no Congresso no qual chegou à liderança do CDS. Para isso, tem uma estratégia bem oleada que vai pôr em prática no comício da rentrée marcado para o próximo sábado.

Autocarros preparados O cenário está a ser montado para que a festa seja em grande. Da distrital de Lisboa já seguiu um email para as concelhias, assegurando transporte em autocarros para os militantes que queiram ir até Oliveira do Bairro. Há porco no espeto no menu e um discurso forte a ser preparado pela líder para garantir tempo de antena máximo.

O evento de Oliveira do Bairro está na agenda centrista há um mês, mas ganhou ainda mais importância depois de no domingo o discurso de Cristas ter sido atropelado pelo de Pedro Passos Coelho na Universidade de Verão do PSD. 

“É mais uma oportunidade para passar a mensagem”, comenta uma fonte centrista, admitindo que a forma como os discursos de Passos e Cristas se sobrepuseram não ajudou.

Cristas sabe que tem de descolar do PSD, mesmo que em muitos pontos o seu discurso não divirja muito. 

Críticas iguais “O Governo que PSD e CDS têm à frente para fazer oposição é o mesmo, por isso as críticas são as mesmas”, admite uma fonte da direção centrista, explicando que se o diagnóstico coincide, a forma de fazer oposição deverá ser cada vez mais diferente.

“Vamos concentrarmo-nos cada vez mais nas questões sociais, que é uma área na qual o PSD nem toca”, assume a mesma fonte, explicando que na altura da negociação do Orçamento do Estado Cristas aparecerá cada vez mais com propostas concretas. Para já, a líder do CDS avançou com ideias como o crédito fiscal para as start ups, a reorganização dos ciclos escolares e a obrigação de o Estado apresentar a cada contribuinte uma previsão da pensão que irá receber quando se reformar. Mas assim que a discussão sobre o Orçamento começar a aquecer, deverão aparecer muito mais ideias, nomeadamente na área do envelhecimento ativo e da natalidade.

Uma coisa é certa, o discurso de Assunção vai continuar a centrar-se no ataque direto ao BE e ao PCP. “Já percebemos que essa é uma forma de ter atenção mediática e também de pôr esses partidos a reagir e a entrar em contradição”, confessa uma fonte próxima da líder centrista.

Não ser o ‘abutre’ A expressão “mudança sensata” vai também aparecer muito mais vezes nos discursos de Cristas. A ideia, explica-se na direção do CDS, é que “não é preciso mudar tudo como está a fazer o PS, nem deixar tudo como estava há um ano, como quer o PSD”.

No CDS acredita-se que Pedro Passos Coelho está a seguir uma estratégia arriscada, ao insistir em lembrar as metas que o governo tem para cumprir. “O PSD está muito concentrado no cenário macroeconómico e corre o risco de ficar sem discurso se o governo apesar de tudo for conseguindo alcançar alguns dos objetivos a que se propôs”, comenta um dirigente do CDS, que diz que Assunção Cristas só irá concentrar-se nos números da dívida, “para mostrar que não está a ser paga”, e nos índices de confiança e investimento “porque esses ajudam a justificar as ideias que temos para essas áreas”. O que Cristas não quer é “fazer a figura do abutre que está à espera que corra tudo mal”.

Mas isso não quer dizer que o CDS vá entrar em debate com o PSD. “Nem isso faz sentido”, sublinha uma fonte centrista, explicando que a ideia não é hostilizar o antigo parceiro de coligação, mas ganhar espaço próprio aproveitando áreas nas quais o PSD está com dificuldades em passar a mensagem.

As autárquicas são outro dos pontos de que Cristas deve falar no seu discurso da rentrée, mas é visto como “muito pouco provável” que aproveite para se anunciar como candidata à Câmara de Lisboa, apesar de ser cada vez mais certo que o fará. “Ainda é cedo”, aponta uma fonte da distrital, que admite que a líder deverá apenas reforçar a importância do próximo ciclo eleitoral, à semelhança do que fez já no Congresso em que foi eleita.

A competição com o PSD é clara, mas do lado social-democrata ninguém parece muito incomodado ou surpreendido com a atitude do antigo parceiro de coligação. “É natural. Assunção Cristas está a fazer o seu caminho”, limita-se a observar uma fonte próxima de Pedro Passos Coelho.

Apesar da normalidade com que no PSD se vê esta afirmação da líder do CDS e de toda a pressão centrista em Lisboa, continua a não ser muito provável que os sociais-democratas deem o seu apoio a uma candidatura de Assunção Cristas à câmara da capital. A resistência a essa ideia continua a ser grande na concelhia lisboeta e na direção também não há consenso sobre essa matéria.