O PSD quer esclarecimentos da RTP sobre as denúncias de promiscuidade entre a administração e empresas de produção das quais são sócios os responsáveis do canal público feitas por Luís Marinho numa entrevista ao i.
Os sociais-democratas pedem um “inequívoco esclarecimento” por parte dos responsáveis da televisão do Estado porque consideram que as declarações feitas pelo ex-administrador da RTP ao i, Luís Marinho, “permitem suscitar dúvidas sobre o funcionamento da RTP, e do seu Conselho de Administração em particular”.
As perguntas seguiram ontem do Parlamento para o governo, num requerimento assinado pelo deputado Sérgio Azevedo, que pede esclarecimentos ao Conselho de Administração da RTP e ao Conselho Geral Independente da estação pública.
Sérgio Azevedo quer saber “quantos serviços, direta ou indiretamente, foram contratados à empresa Produções Ficticias, Lda [propriedade de do administrador Nuno Artur Silva], desde a sua nomeação para a administração da RTP”.
Mas quer também saber se o responsável da estação do Estado celebrou contratos diretamente com profissionais da sua produtora na qualidade de administrador.
Além disso, o PSD quer esclarecer os contornos da relação entre o diretor de Programas da RTP, Daniel Deusdado, e as empresas Farol de Ideias e Pequeno Farol, produtoras de que era coproprietário com a sua mulher à data da sua nomeação.
“Apesar da sua aprovação a Entidade Reguladora da Comunicação Social deixou um conjunto de recomendações no que respeita à relação comercial entre estas duas empresas e a RTP por forma a acautelar uma eventual relação de incompatibilidade. As recomendações foram cumpridas?”, questiona o PSD, que pede à RTP que revele se estabeleceu “alguma relação comercial” com alguma das empresas de que são sócios os seus atuais responsáveis.
As denúncias
A polémica estalou depois de Luís Marinho vir a público criticar o facto de Nuno Artur Silva acumular o cargo da RTP com o de dono de um canal de cabo (canal Q) e de Daniel Deusdado, diretor de programação do canal público, ter uma produtora em nome da mulher – que vende programas à própria RTP.
Marinho esteve 15 anos no grupo RTP e saiu este mês, depois de considerar que tinha sido posto numa prateleira dourada. “Neste último ano e meio achei que já era muito tempo para estar a fingir, apesar de me terem dado umas coisas para me entreter e para estar ocupado”, comentou ao i, numa entrevista na qual critica a multiplicação de cargos de direção na RTP e ataca a “estratégia inexistente” da administração para a televisão do Estado.
Foram, porém, as revelações sobre as relações entre administradores e diretores e as empresas de produção de que são sócios que fizeram o PSD pedir esclarecimentos. Marinho considera que a situação é eticamente “absolutamente reprovável”. E afirma que Nuno Artur Silva e Daniel Deusdado têm contratado para a RTP “guionistas e apresentadores dos seus canais e das suas produtoras”.
“Não entendo porque é que há tanto silêncio em torno disto. Isto tem de ser explicado e o Conselho Geral já se devia ter pronunciado há que séculos sobre esta questão. Tem de ter uma opinião nem que seja para dizer que tudo isto é legal, que tudo isto está certo e não há aqui qualquer tipo de problema”, defendeu Luís Marinho na entrevista ao i.