A presidente do CDS anunciou sábado à noite a sua candidatura à Câmara de Lisboa e parte com uma fasquia alta. “Acho que Assunção Cristas, pelas características pessoais, pelo peso político e pelas pessoas que tem em Lisboa e que poderá levar consigo, tem condições para conseguir um resultado histórico para o CDS”, afirma Nuno Melo.
O dirigente centrista recusa quantificar o que será um “bom resultado” em Lisboa, explicando desejar que o seu partido “vença a eleição”, mas admitindo que Cristas poderá reclamar vitória se alcançar “o que o CDS conseguiu em anteriores eleições em Lisboa”.
Se assim for e sem contar com as vitórias de Krus Abcassis, Assunção Cristas poderá medir o seu êxito pela fasquia deixada por dois pesos pesados do partido, Paulo Portas em 2001 e Maria José Nogueira Pinto em 2005.
A fasquia de portas. Nogueira Pinto conquistou um lugar na vereação com 5,92%. Portas também conseguiu um vereador e chegou aos 7,55%. Na altura, este número não permitiu, contudo, ao líder do CDS cantar vitória: o partido tinha tido um péssimo resultado nacional nas autárquicas e a fasquia estava tão alta para Portas, que este chegou a escrever o seu discurso de demissão. Não o leu, porque entretanto António Guterres demitiu-se e isso abriu-lhe caminho para se associar ao PSD e chegar ao poder.
Esta história serve agora alguns centristas para lembrar que a fasquia da vitória de Assunção se medirá também pela “conjuntura” que se vive e por saber se ela acabará ou não por ter o apoio do PSD. “Se tiver, ser presidente da Câmara passa a ser o objetivo”, aponta um centrista.
Objetivo de 8 ou 9%. Para já, fontes centristas asseguram que as sondagens internas dos partidos que já circulam nos bastidores dão a Assunção valores na ordem dos dois dígitos. “É possível que, depois de conhecido o candidato do PSD, ela perca terreno. Mas ter 8 ou 9% deve ser um objetivo”, define um dirigente centrista, que não quer dar a cara pelo número, defendendo que deve ser a própria líder a definir a sua fasquia.
De resto, fontes centristas sublinham ao i que a decisão de avançar como candidata a Lisboa é apenas de Cristas. “Não houve uma vaga de fundo no partido. É uma decisão pessoal”, assegura um centrista, explicando que na última reunião da comissão política do CDS os centristas estavam divididos. “Estava metade, metade”. Havia quem a encorajasse a avançar para mostrar o seu valor em votos, ganhar notoriedade e afirmar-se como líder. Mas houve também quem a avisasse de que corre o risco de ter de jogar em dois tabuleiros difíceis se a geringonça cair e tiver de ser candidata a primeira-ministra.
Uma coisa é certa: se Cristas falhar, não faltará quem use isso para lhe pôr em causa a liderança. Mas também é certo que Assunção fez questão de deixar claro no seu discurso que não é “de virar a cara” e que assume em nome próprio todas as suas responsabilidade.
Surpresa e críticas. Assunção Cristas vinha desde o Congresso de Gondomar a acalentar a ideia de avançar e a verdade é que ao longo de meses foi ouvindo argumentos de alguns dos seus correlegionários para se candidatar.
Este sábado, decidiu fazer o anúncio em Oliveira do Bairro, na rentrée do partido e apanhou muitos desprevenidos. Ao início da tarde, avisou o líder da distrital, João Gonçalves Pereira, de que ia anunciar-se como candidata. Depois, começou a tentar ligar a Passos Coelho, que não ouviu o telefone por estar numa ação política. Acabaria por lhe enviar um sms para que o líder do antigo parceiro de coligação não soubesse pelos media que o CDS já tinha candidata.
Passos não acusou o incómodo e até lhe desejou “boa sorte” em declarações aos jornalistas, mas para já continua a parecer pouco provável que o PSD apoie a candidata centrista.
A forma como Cristas avançou para o anúncio valeu-lhe algumas críticas internas, com alguns centristas a não perceberem por que motivo escolheu Oliveira do Bairro e não Lisboa para fazer um anúncio que acabou por ficar ofuscado pelas notícias de futebol e incêndios, que deixaram as televisões sem meios para dar o discurso da líder do CDS em direto.