Governo recua no novo imposto

Valor tributado deve ficar mais perto de um milhão de euros e casas arrendadas deverão ser isentas. PS e PCP asseguram que a medida está ainda a ser afinada. O anúncio feito pelo BE de um acordo fechado com António Costa provocou irritação nos comunistas.

Aversão final do novo imposto sobre património imobiliário global deve ficar muito longe do que foi inicialmente avançado. O patamar acima do qual haverá tributação especial deverá ficar bem acima dos 500 mil euros e está a ser estudada uma forma de isentar os imóveis que destinados ao arrendamento. Razões suficientes para haver quem no PS admita que a fuga de informação sobre o imposto foi um tiro no pé.

Poucas horas depois de o Jornal de Negócios ter chegado às bancas com a notícia de um novo imposto sobre imóveis, o BE anunciava às redações uma conferência de imprensa de Mariana Mortágua, para assumir o que os bloquistas reivindicam ser um acordo fechado com o Governo. Avisado de que seria preciso reagir à notícia, o PS acabaria, contudo, por deixar claro que há ainda muito por definir na medida, que está a ser analisada.

«Há um entendimento de princípio, mas falta acertar os moldes», esclareceu Eurico Brilhante Dias, a quem coube vir explicar não estarem ainda definidos nem o montante a partir do qual se aplicará este imposto nem a taxa que será cobrada.

Fontes da maioria de esquerda ouvidas pelo SOL apontam como provável que o montante tributável fique acima dos 500 mil euros que eram reclamados pelo BE na negociação com o Governo.

A própria Mariana Mortágua, na conferência de imprensa no Parlamento, reconheceu que o valor andará «algures entre os 500 mil euros e um milhão de euros de valor global tributável», reconhecendo que o montante não está fechado. Além disso, Eurico Brilhante Dias, do PS, veio lembrar que estão a ser estudadas isenções para casas arrendadas, frisando que serão sempre isentados os imóveis usados para fins produtivos.

De resto, nas reuniões entre Governo e PCP, a conversa tem andado sempre à volta de tributar património acima de um milhão de euros.  Essa era, aliás, a proposta comunista para o Orçamento do Estado para 2016 e é à volta desse número que o PCP tem feito as negociações. Um milhão de euros é o valor de património mobiliário ao qual o PCP quer também aplicar uma taxa extraordinária – mas esse será sempre um outro imposto, já que a lei não permite somar património imobiliário e mobiliário para ser taxado como um todo.

 

Mal-estar entre PCP e BE

A tensão maior entre bloquistas e comunistas surgiu, porém, em torno do timing escolhido para o anúncio da medida e da forma como o BE anunciou o imposto como resultado de uma negociação sua com o Governo. Os comunistas não gostaram de ver o BE reclamar a paternidade da medida e não perceberam como se pôde dar como fechado um assunto em negociação.

«Não há um acordo. Há uma ideia que está a ser trabalhada em reuniões onde se olha para a questão fiscal como um todo», insiste o deputado comunista Paulo Sá, garantindo que – apesar de não pertencer aos grupos de trabalhados formados pelo BE com o Governo – o PCP anda «desde antes das férias» em reuniões de negociação com o Executivo para, entre outros aspetos, encontrar formas de compensar o aumento da despesa provocado pela reposição de salários levada a cabo por esta maioria.

Po isso mesmo, os comunistas teriam preferido não avançar com anúncios de medidas avulsas, antes de se conhecer o Orçamento do Estado para 2017 como um todo.

Essa é também a visão de alguns deputados do PS, que não gostaram de ver primeiro o ministro Mário Centeno a admitir o aumento de impostos indiretos e depois o BE a dar como certa uma medida cujos contornos ainda não estão definidos. «Há análises técnicas a serem feitas pelas Finanças, mas não há uma decisão política final sobre a forma como a medida será inscrita no Orçamento», conta um deputado socialista preocupado com o «ruído desnecessário» criado por notícias desgarradas sobre aumentos de impostos.

De resto, Jorge Coelho foi também muito crítico na análise à gestão deste dossiê na Quadratura do Círculo, na SIC Notícias. «Nada está explicado. O Governo tem de ter muita atenção à estratégia de como apresenta estas coisas», disse o ex-ministro socialista. Coelho acha que «o facto de não se ter apresentado esta medida de forma clara está a criar a maior das confusões», criticando a forma como o anúncio foi feito pelo BE e sem um enquadramento «na estratégia global das finanças públicas».