A comunicação continua a ser o calcanhar de Aquiles do ministro das Finanças e é cada vez mais evidente o desconforto que as gafes de Mário Centeno provocam no núcelo duro de António Costa. Esta semana, foram duas as vezes que Centeno deixou os socialistas à beira de um ataque de nervos por ter dito o que não devia.
Primeiro, foram as declarações à CNBC sobre um novo resgate. Depois foi a admissão de aumentos de impostos indiretos na Comissão de Finanças no Parlamento. Num caso e no outro, Mário Centeno fugiu completamente à linha de comunicação definida pelo Governo. E obrigou mais uma vez António Costa a vir corrigi-lo publicamente.
A ordem no Governo e no PS era para desvalorizar a ideia de que Portugal poderia vir a precisar de um novo resgate. Mas a forma desastrada como Mário Centeno respondeu à jornalista da CNBC que lhe perguntou se estava a trabalhar para evitar um novo pedido de ajuda externa, foi pôr gasolina na fogueira de uma polémica que o Executivo queria apagar. Centeno respondeu que evitar um segundo resgate é a sua «principal tarefa». E coube a António Costa ser o bombeiro de serviço.
«Não tem cabimento falar em qualquer tipo de resgate», teve de vir assegurar o primeiro-ministro na quarta-feira, recordando os dados positivos da execução orçamental e assegurando que o défice português vai «ficar confortavelmente abaixo dos 2,5%».
Ontem, Costa ainda era assombrado pelo assunto, lançando um «nenhum adulto se interessa por fantasmas», depois de os jornalistas o confrontarem com as declarações da presidente do Conselho de Finanças Públicas, Teodora Cardoso, que na véspera tinha dito que «o risco de resgate nunca está afastado».
A irritação dos socialistas com os problemas de comunicação do ministro das Finanças é evidente. «Felizmente, nos próximos dias não está prevista nenhuma intervenção», ironizava a meio da semana um alto dirigente do PS, comentando o esforço que tem de ser feito para reparar os erros de Centeno. «Quando ele fala já sabemos que alguém tem de vir explicar-se depois», comentava a mesma fonte, que criticava a forma como o ministro admitiu no Parlamento o aumento de impostos indiretos em vez de pôr a tónica no alívio global da carga fiscal que o Governo está a desenhar para o Orçamento do Estado para 2017.
De resto, no PS defende-se que Mário Centeno e a sua equipa devem evitar voltar a falar de Orçamento até à apresentação do documento na Assembleia da República. Um ideia que caiu por terra quando, na quinta-feira, Rocha Andrade se viu confrontado com a criação de um novo imposto sobre o património imobiliário.