A fotografia que ficou para a história mostra Durão Barroso, Tony Blair, George W. Bush e José María Aznar sorridentes. O momento marcava o início de uma coligação militar internacional liderada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido para invadir o Iraque e destituir Saddam Hussein.
O cenário era a Base das Lajes, na ilha Terceira, nos Açores, e só isso explica a presença de Durão na imagem. Mas nesse momento, Portugal passou a ser uma peça na sucessão de eventos que levaram à tentativa de convencer a opinião pública de que havia motivos válidos para invadir o Iraque.
O mundo ainda estava com as feridas do 11 de Setembro bem abertas e Blair e Bush basearam a sua argumentação no alegado poderio militar de Saddam. Reino Unido e Estados Unidos afirmavam ter informações sólidas sobre a existência de armas de destruição massiva no Iraque. Foi com esse argumentário que conquistaram legitimidade para avançar para uma invasão militar. E o pontapé de saída foi dado nas Lajes.
O problema? Treze anos depois, um relatório encomendado pelo governo de Gordon Brown revelou que não havia quaisquer provas sólidas nesse sentido. Mas também que não houve um planeamento adequado do que deveria acontecer depois da invasão.
À distância, o próprio Durão Barroso já reconheceu o erro. “Foram-me apresentados documentos dizendo que havia armas de destruição maciça no Iraque. Eu, aliás, ainda conservo alguns desses documentos. E, afinal, não havia”, disse Durão ao “Expresso”, numa entrevista em maio.
Barroso, que diz que “hoje não teria tomado a mesma decisão”, assume que o que foi vendido à opinião pública internacional em 2003 era, afinal, muito pouco consistente. “Foi-me dito também que estava tudo preparado para uma transição a seguir. Eu nunca tive dúvidas de que seria relativamente fácil deitar abaixo [o ex-presidente do Iraque] Saddam Hussein. A dificuldade era o dia seguinte. Bom, isso também não veio a verificar-se”, admitiu numa entrevista. Resta saber se irá ao parlamento fazer esse mesmo reconhecimento, numa altura em que enfrenta uma enorme polémica internacional por causa do emprego que aceitou no banco Goldman Sachs. M. D.