EUA. Trump sugeriu que pode não se comprometer com o resultado das eleições

Candidato republicano disse que queria “manter o suspense” quando questionado, no último debate presidencial, se ira reconhecer uma eventual derrota.

O terceiro confronto entre os dois principais candidatos à Casa Branca acabou por ser mais previsível do que os dois anteriores. Na madrugada desta quinta-feira – noite de quarta-feira nos EUA – Hillary Clinton e Donald Trump defrontaram-se pela última vez, antes do dia das eleições presidenciais e confirmaram aquilo que já todos sabíamos: dois perfis antagónicos, com visões e planos totalmente opostos e representantes de duas fações completamente distintas do país. Apesar de menos agressivo que nas ocasiões anteriores, Trump não quis deixar passar a oportunidade de ser ele mesmo e pôs em causa o cumprimento de uma tradição democrática.

Durante a última semana e face à espiral negativa que ameaçava o sucesso da sua campanha, o candidato presidencial pelo Partido Republicano, começou a insistir na ideia de que as eleições estavam “viciadas”. Um argumento que o moderador Chris Wallace, da Fox News, quis ver esclarecido e que o levou a perguntar ao magnata se, em caso de derrota no dia 8 de novembro, iria respeitar o princípio democrático de reconhecer o resultado das eleições. “Vou manter o suspense”, foi a resposta de Trump, prontamente rotulada pela sua adversária como “aterradora”.

No palco da Universidade do Nevada, em Las Vegas, encontraram-se duas caras bem representativas de uma sociedade norte-americana dividida. Depois do triste espetáculo que ofereceram no anterior confronto – onde o insulto superou a política – Hillary e Trump regressaram à fórmula do primeiro debate, no final de setembro. Ela mais experiente e mostrando mais à vontade com os temas, ele focado em descredibilizar os resultados da administração de Barack Obama e de Bill Clinton e o papel da ex-senadora e secretária de Estado nortem-americana.

Ambos os candidatos voltaram a apresentar ideias diferentes sobre os mais variados assuntos, como o aborto, a imigração, o direito de uso e porte de armas, a economia ou a política externa, pelo que nada de novo saiu das suas bocas.

Tal como nos últimos eventos na sua campanha, Donald Trump desmentiu os relatos das nove mulheres que o acusaram de assédio sexual e voltou a repetir uma frase marcante, proferida no debate do passado dia 9, e que provocou, esta quinta-feira, uma gargalhada bastante audível na assistência: “Não há ninguém que respeite mais as mulheres do que eu”. O candidato republicano insistiu na ideia de que não conhece nenhuma das mulheres que testemunharam contra ele e sugeriu duas razões para o surgimento destas acusações: pessoas em busca de fama ou pagas pelos Democratas para ferir a sua imagem.

Ainda sobre o tema das mulheres, o magnata acusou a candidata pelo Partido Democrata de hipocrisia, pelo facto de a Fundação Clinton ter aceitado, por diversas vezes, doações oriundas de países como a Arábia Saudita ou o Qatar, países que “fazem às mulheres aquilo que Hillary não gosta”. “Porque não lhes devolve o dinheiro?”, desafiou Trump.

O debate derivou também para a mais recente fuga de informação da WikiLeaks e o moderador questionou Hillary sobre o conteúdo de alguns dos alegados discursos pagos, elaborados pela candidata democrata. Um tema que Clinton acabou por virar a seu favor, ao confrontar o seu adversário sobre um eventual reconhecimento e até apoio, da parte dele, à estratégia russa de liderar ciberataques contra os EUA. Trump disse que não conhecia Vladimir Putin e que, nesse sentido, estava aberto a ter uma boa relação com a Rússia, mas Hillary acusou-o de ser um “fantoche” de Moscovo.

O magnata voltou a criticar a política de Obama e de Clinton no Médio Oriente e responsabilizou os Democratas pela crise humanitária em Alepo, na Síria, pela perda de Mossul, no Iraque, para o Estado Islâmico, e pelo “rearmamento nuclear do Irão”.

Pelo meio, ainda houve tempo para Donald Trump apelidar a sua oponente como uma “mulher desagradável”, depois de Clinton trazer à baila o não esclarecimento, por parte do republicano, da sua situação fiscal.

Tudo somado, o debate não foi tão feio e tão agressivo como o anterior. Houve momentos de tensão e ataques pessoais de parte a parte, é certo. Mas os 90 minutos de disputa serviram mais para o reforço das posições e dos argumentos das duas candidaturas, do que propriamente para uma discussão ou análise pormenorizada dos mesmos. Hillary explicou os planos que tem para o país e Trump repetiu as ideias que já tinha partilhado.

No final, e tal como no primeiro debate entre os dois candidatos, a grande maioria da imprensa norte-americana e internacional volta a sugerir que Hillary Clinton saiu por cima neste debate – uma vez mais por se ter valido da sua experiência política em confrontos deste género – e que Donald Trump não disse nada que possa fazer os seus apoiantes arredarem pé e virarem-se para o Partido Democrata.

Resta saber, uma vez mais, o que vai na cabeça dos indecisos. Agora só esperando pelo dia 8 de novembro.