A CGTP garante paz social ao Governo

A CGTP reclama para si os louros do sucesso da derrota do Governo PSD/CDS. Faz também parte da chamada ‘geringonça’.

A chamada paz social é um dos maiores trunfos do Governo Costa. Até agora nenhum outro Governo teve esse privilégio. Sendo a CGTP a grande mobilizadora dos trabalhadores contra o Governo, o compromisso da central sindical com o Executivo é uma das melhores bênçãos para António Costa. A grande oposição nas ruas ao Governo Passos-Portas veio da CGTP. Ter a rua do seu lado é um benefício absolutamente extraordinário para um Governo que cumpre em novembro o seu primeiro aniversário.

Basta ver como o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, recebeu o Orçamento do Estado para 2017. Deve ser a primeira vez na história que a utilização de palavras é tão cuidadosa e agradável – de resto, exatamente como acontece com o Partido Comunista que, com o Bloco de Esquerda, apoia o Governo Costa.

Disse Arménio sobre o Orçamento: «A proposta de OE para 2017 deve ser melhorada na discussão na especialidade e, por isso, a CGTP vai pedir reuniões aos grupos parlamentares do PS, do PCP, do BE e do PEV, para lhes transmitir as nossas posições e propostas para melhorar o documento», disse o secretário-geral da CGTP.

Depois da reunião do Conselho Económico e Social, esta semana, Arménio Carlos foi mais duro: «É um Orçamento que deixa o país refém do défice e da dívida e nós não podemos aceitar sem manifestar a nossa oposição e sem exigir mudanças». O secretário-geral da CGTP referia-se em concreto a «situações como aquela que se pode verificar no próximo ano, que é o facto de os encargos com os juros da dívida andarem na ordem dos 8 mil milhões de euros e termos de pagar mais 1.600 milhões pelas Parceria Público-Privadas».

«Estamos a falar de 9,6 mil milhões de euros. É mais do dobro do que aquilo que o Estado vai fazer em termos de investimento público». É evidente que existem críticas da CGTP, como existem críticas do PCP.

O editorial do órgão oficial do Partido Comunista, o Avante!, faz uma lista das lutas dos trabalhadores em curso, «em diversas empresas e setores» como «a greve dos enfermeiros com elevada adesão, as lutas dos trabalhadores da Amarsul e Valorsul e outras empresas do grupo EGF, dos Call Center da EDP, dos ex-trabalhadores dos estaleiros de Viana do Castelo, do Hospital de Setúbal e muitas outras lutas, iniciativas e ações como foram o Congresso da CNOD, a concentração de utentes no Montijo, a luta em torno de questões ambientais em Pias/Ferreira do Zêzere, a concentração em S. Bartolomeu de Messines em defesa do SNS (…) Ou como certamente vão ser as concentrações de reformados de 22, 28 e 29 de Outubro promovidas pelo MURPI, as lutas dos trabalhadores da Administração Pública e muitas outras em torno da ação reivindicativa». Ou seja, a CGTP não está parada. O tom é que mudou radicalmente.

Na realidade, tanto para o PCP como para Arménio Carlos, a proposta do Orçamento «prossegue, ainda que com limitações, a reposição de rendimentos dos trabalhadores e pensionistas».

Na origem desta paz social está o facto da central sindical se sentir de pleno direito parte da ‘geringonça’ e fez sempre questão de destacar a sua quota-parte na queda do Executivo PSD/CDS. Citando o Avante!: «Se é verdade que a luta dos trabalhadores e das populações foi determinante para cada direito e para cada rendimento que foi defendido, reposto ou conquistado ao longo destes meses, não é menos verdade que a sua concretização não teria sido possível sem a força, determinação e iniciativa do Partido Comunista Português». Conclusão: Costa lidera o primeiro Governo que em 42 anos conseguiu seduzir ‘a rua’.