O PS recebeu com “naturalidade” o anúncio feito por Catarina Martins de que o Bloco de Esquerda vai votar a favor do Orçamento do Estado e não espera outra coisa do PCP. Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do PS, disse estar “absolutamente convencida do voto favorável do BE, do PCP e também do PEV”.
A socialista garante que Orçamento do Estado para 2017, que vai ser discutido no parlamento, na generalidade, nos dias 3 e 4 de novembro, “vai ao encontro dos compromissos do PS com os seus eleitores, do país com as instâncias internacionais e do PS com os parceiros de governo”. Ou seja, acrescenta Ana Catarina Mendes, “a discussão vai decorrer normal e naturalmente no seio da Assembleia da República e estou absolutamente convencida de que os nossos parceiros estarão ao nosso lado neste Orçamento”.
O BE já assumiu que votará favoravelmente, na generalidade, a proposta de Orçamento para o próximo ano. Catarina Martins disse, neste fim de semana, que o Bloco vota a favor porque “este Orçamento do Estado, objetivamente, aumenta rendimentos do trabalho, cumpre o compromisso de não precarizar e privatizar mais, de não aumentar os bens essenciais”. A líder bloquista elegeu o aumento das pensões como “a marca deste Orçamento”. Em suma, “no deve e no haver, em 2017, quem vive do trabalho será mais respeitado e, por isso, o Bloco de Esquerda vai votar a favor na generalidade”.
BRUXELAS Os governantes – 14 ministros e quatro secretários de Estado – foram convocados neste fim de semana para dar a volta ao país em “sessões de esclarecimento” sobre o Orçamento do Estado. Em Setúbal, o ministro das Finanças garantiu que o Orçamento “cumpre todos os compromissos do programa de governo e no quadro europeu”. E mais: “Se calhar, até vamos cumprir melhor os compromissos do que outros países e pode ser que depois se entretenham com outros países e não connosco.” A Comissão Europeia tem até ao fim do mês para se pronunciar no caso de identificar sérios riscos de incumprimento.
ESQUERDA Este é um Orçamento de esquerda? António Costa e Centeno garantem que sim, mas PCP e BE discordam. “Dizer que se trata de um Orçamento de esquerda é manifestamente exagerado”, disse, em entrevista ao “Expresso” neste sábado, o secretário-geral do PCP. Catarina Martins também não vai ao ponto de considerar que este seja um Orçamento de esquerda. “Teria de reestruturar a dívida, não excluía ninguém da reposição de rendimentos e teria de ter uma estratégia mais forte para a criação de emprego”, disse, em entrevista à TSF, a coordenadora do BE.
Costa e Centeno apresentam outros argumentos. “Se olhar para o lado dos rendimentos, é de esquerda; se baixar a carga fiscal direta, é de esquerda; se estimular o emprego e apoiar o investimento para conseguir crescimento económico, é de esquerda – então, este é um Orçamento de esquerda”, disse o ministro das Finanças ao “Expresso”. Costa admite, porém, que “há várias esquerdas e é natural que haja uma leitura plural”. O que não o impediu de dar, em entrevista à TVI, quatro razões para provar que governa à esquerda: o Orçamento “diminui a carga fiscal, aumenta os rendimentos, aumenta o conjunto das prestações sociais e reforça o Estado social”. Já o líder do PSD, Passos Coelho, disse, em entrevista ao “Público”, não saber “se este é um Orçamento de esquerda ou de outra coisa qualquer”, mas “é um mau Orçamento”.