Pedro Passos Coelho não apreciou o modo como Marcelo Rebelo de Sousa criticou o PSD nas cerimónias do 1.º de Dezembro. O facto de Marcelo defender a reposição do feriado feita pelo atual primeiro-ministro, António Costa, ofendeu o ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. O tom do líder da oposição demonstrou-o logo ontem: “Ainda bem que [Marcelo] não é presidente do PSD.”
Marcelo, ex-presidente do PSD, respondeu no dia: “Tem toda a razão. Ainda bem que o PSD está bem entregue.”
O caldo começou a transbordar, mas ainda não entornou todo.
Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que foi Passos Coelho “quem os sociais-democratas escolheram” e que, não sendo “possível ser ao mesmo tempo presidente do partido e de Portugal”, foi “possível eleger pelo voto dos portugueses alguém que é Presidente de todos”.
O Presidente da República nega que haja tensões entre o Palácio de Belém e a direção do PSD e que trata “com o mesmo desvelo todos os partidos, quer os do governo, quer os da oposição”.
Passos, em entrevista ao ‘ECO’, louvara o Presidente da República por estar “a fazer tudo o que está ao alcance dele para que o mercado, os agentes económicos, acreditem mais num Governo de que desconfiavam”.
Apesar da retidão institucional, fonte próxima do líder da oposição afirmou ao i que o tom mais aguerrido de Passos Coelho se deve ao modo como Marcelo visou o antigo governo PàF nas comemorações do 1.º de Dezembro.
Marcelo afirmou que “o feriado nunca deveria ter sido suspenso”, criticando a opção tomada pela coligação PSD/CDS durante a legislatura 2011/2015.
O Presidente da República havia referido a importância da “independência financeira e económica” e de recusar “minimizações inaceitáveis” ou “submissões” – se falava mais do período de assistência externa ou dos Filipes de Espanha, ficou por esclarecer.
Passos, que nem foi às cerimónias – ao que o i apurou, por considerar o convite uma “provocação gratuita” por este louvar a reposição do feriado por parte de António Costa – também não apreciou os ataques a si dirigidos no evento; nem a si, nem ao governo que chefiou, nem ao partido que lidera.
“É uma situação dilemática no partido porque há muitos passistas que votaram no Marcelo e muitos marcelistas que votariam hoje em Passos”, aponta um senador dos sociais-democratas. “Perante aquele cenário, eu também não sei se tinha ido”, ponderou.
Assunção Cristas, que foi ministra da Agricultura de Passos Coelho, esteve na cerimónia como líder do CDS-PP.
Ontem, Marcelo salientou também que um chefe de Estado “não pode ter amuos”.
Luís Montenegro, presidente da bancada do PSD, ainda veio dizer no fim de semana que o “grupo parlamentar não recebeu nenhum convite” para as cerimónias do 1.º de Dezembro, mas o certo é que nenhum líder de bancada esteve presente na cerimónia. Nem Carlos César, do Partido Socialista, nem Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, nem João Oliveira, do Partido Comunista, nem Nuno Magalhães, do CDS. Não se convidaram bancadas, convidaram-se direções.
Marcelo cavaquista? Mas na conferência que Passos Coelho protagonizou ontem, a questão da proximidade entre Marcelo e o governo do PS – ou, se quisermos, a distância entre Marcelo e o PSD – sobressaiu.
Passos, no entanto, considerou que o mandato de Marcelo e a atitude que tem mantido com o atual governo seguem em linha com a do seu antecessor Cavaco Silva quando este lidou com José Sócrates, então primeiro-ministro de um executivo escudado numa maioria absoluta do PS.
Para o líder do PSD, o chefe de Estado está a dar a António Costa todas as condições para este governar, tal como Cavaco deu a Sócrates.
“No essencial [Marcelo] faz o mesmo”, disse, concluindo que, por isso, os dois mandatos “não são muito diferentes”, elogiando essa atitude dos dois órgãos de soberania.
Passos Coelho aproveitou, para fazer uma pergunta, deixando igualmente uma resposta: “Será que tem levado o papel mais longe do que devia? Eu votei nele e, para mim, ele está a cumprir o papel que tinha dito que ia fazer”.
Nada de novo Este não foi o primeiro episódio de troca de palavras entre Marcelo e Passo Coelho. No final de abril deste ano, em entrevista ao “SOL”, Pedro Passos Coelho considerou que o Presidente da República “irradia felicidade”. O líder do PSD não ficou sem resposta. Logo no início de maio, Marcelo atirou: “Mal fora que o Presidente irradiasse infelicidade, azedume, má disposição com a vida e com os portugueses.”
As palavras dirigidas, direta ou indiretamente, entre os dois já vêm de trás. Na moção que levou ao XXXV congresso do PSD, em 2014, Pedro Passo Coelho traçou o perfil da figura que o partido se propunha apoiar nas presidências de 2016. E rezava assim: o PSD não queria apoiar um candidato que fosse um “protagonista catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou num catavento de opiniões erráticas.” Muitos viram nestas palavras uma recusa de Passos, então primeiro-ministro, vir a apoiar o influente comentador televisivo e ex-líder do s sociais-democratas Marcelo Rebelo de Sousa.
Os tempos acabaram por demonstrar o apoio do PSD à eleição presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa. E a vitória do mesmo. Com António Bilrero