EUA. Amigo de Putin vai ser secretário de Estado de Trump

Presidente eleito anunciou hoje o nome do próximo chefe da diplomacia norte-americana. Trata-se de Rex Tillerson, um homem do petróleo e um velho conhecido de Moscovo

Mitt Romney, Rudy Giuliani, David Petraeus ou Bob Corker. Foram alguns dos nomes que tinham vindo a ser apontados pela imprensa norte-americana, como hipóteses credíveis para ocupar o importante cargo de chefia das relações externas da Casa Branca da futura administração Trump. Mas a escolha recaiu sobre um outro homem, cujo nome apenas começou a circular com mais força  no passado fim de semana, pelas redações dos principais jornais e televisões dos EUA. Falamos de Rex Tillerson, confirmado hoje, pelo presidente eleito, como o seu nomeado para secretário de Estado. 

Tillerson é CEO da companhia petrolífera ExxonMobil e a sua figura encaixa-se que nem uma luva no perfil traçado por Donald Trump, para “drenar o pântano” de Washington. À semelhança do magnata, o escolhido não tem qualquer experiência em cargos públicos e, naturalmente, em funções formais de política externa. Para além do conhecido traquejo no ramo do petróleo, quando se olha para Tillerson, salta logo à vista a ligação com a Rússia e com o seu presidente, Vladimir Putin. 

O empresário de 64 anos figura numa longa lista de negócios em larga escala, no mercado da energia da região euro-asiática, e foi, inclusivamente, peça-chave no acordo alcançado, em 2011, entre a “sua” ExxonMobil e a mega petrolífera estatal russa Rosneft, com vista à extração de petróleo no Árctico, uma missão cada vez mais facilitada pelo degelo provocado pelas alterações climatéricas. 

Se dúvidas houvesse sobre o grau de aprofundamento da relação “empresarial” do multimilionário do petróleo com Moscovo, a condecoração com a Ordem da Amizade, em 2013, pela mão de Putin, mostra que os laços são estreitos e palpáveis. 

Nomeação via Twitter

O elogio público que Trump ofereceu a Tillerson, no passado domingo, através de uma mensagem publicada no Twitter – catalogou-o como um “negociador e jogador de classe mundial” – já fazia prever que o anúncio da sua escolha também seria feito através daquela rede social. “Escolhi um dos maiores líderes empresariais do mundo, Rex Tillerson, diretor e CEO da ExxonMobil, para secretário de Estado”, exultou Trump em mais um tweet, partilhado esta manhã.

A escolha não é consensual,  como seria de esperar, nomeadamente entre os republicanos, até têm maioria no Senado norte-americano. Os ex-candidatos presidenciais John McCain e Marc Rubio – o segundo superado por Trump ainda nas primárias do GOP, o primeiro derrotado por Barack Obama, em 2008 – são as caras mais conhecidas de oposição interna a Tillerson, pelo que o presidente eleito terá de apresentar numa estratégia ambiciosa para os convencer. A última vez que a câmara alta do Congresso chumbou um nome apontado pelo chefe de Estado para fazer parte da sua administração, foi em 1989, e Trump não quererá correr esse risco, se pretende ter o Senado do seu lado, nos próximos quatro anos.

Uma das razões apontadas pelos críticos em relação a esta escolha tem que ver com a eventualidade de se poder estar perante um caso típico de conflito de interesses. O maior exemplo desse risco está relacionado com a decisão da União Europeia e dos EUA pela aplicação de sanções à Federação Russa, motivada, em primeiro lugar, pela anexação ilegal da república ucraniana da Crimeia, em 2014, por parte do gigante de Moscovo. Isto porque a ExxonMobil foi uma das empresas mais prejudicadas pela quebra do volume de negócios entre os dois blocos económicos. Neste sentido, a possibilidade de levantamento de algumas dessas sanções – uma intenção que, ao contrário do que foi defendido pela candidata derrotada, Hillary Clinton, nunca foi negado de forma clara por Donald Trump – beneficiaria de forma manifesta a companhia de Tillerson.

Interferência russa

O anúncio da nomeação do magnata do petróleo para o cargo de secretário de Estado, surge poucos dias depois da revelação do  “Washington Post”, sobre a apresentação de um relatório secreto a um grupo de senadores, por parte da CIA, que confirmava a interferência da Rússia na campanha eleitoral norte-americana, com o objetivo de beneficiar Trump.

A acusação foi naturalmente negada pelo republicano – classificou-a como “ridícula” e pôs em causa a credibilidade dos serviços secretos – mas diversos senadores das duas forças políticas, com McCain à cabeça, querem que o Congresso abra um inquérito especial. Na mesma linha, dez membros do Colégio Eleitoral querem ter acesso à informação contida no relatório, antes de votarem em conformidade com a decisão eleitoral dos seus estados.

A escolha de um homem chegado ao Kremlin para um cargo vital do gabinete presidencial nada acrescenta a este caso, mas dificilmente contribuirá para afastar a nuvem russa que teima em pairar sobre a Trump Tower. Os próximos ventos, dias ou meses, tratarão de arrastá-la para Washington ou desvanecê-la de forma permanente.