Marcelo. O Presidente que aumentou o PIB nacional (o do afecto e do mimo)

Marcelo é provavelmente o mais empático Presidente da República da história nacional. O ano é dele. Aumentou o índice nacional de boa disposição coletiva, o que não é de somenos

Atualmente, as estatísticas do bem-estar dos países já utilizam outras variáveis que não a do PIB económico. Marcelo, sem qualquer poder sobre as finanças, contribuiu para disparar a felicidade interna bruta nacional. Como? Sendo igual a si próprio, levando para Belém simplesmente a sua própria persona, “o Marcelo”, que habita há 68 anos.

A empatia do Presidente da República era um fenómeno conhecido e foi apenas nela que assentou a campanha eleitoral. É também essa empatia a pedra decisiva do seu mandato: Marcelo é o mais empático dos políticos portugueses e não existe cargo onde esse fator seja tão valioso como no de Presidente da República. As sondagens de popularidade mostram como o fenómeno Marcelo está a ser delirantemente apreciado pelos cidadãos portugueses.

A hiperatividade do Presidente tem sido contestada por alguns, que admitem que Marcelo pode vir estar a extravasar os seus poderes constitucionais. O caso mais recente, quando Marcelo tentou evitar o fecho do Teatro da Cornucópia, sentando-se no palco com a direção do teatro e obrigando o ministro da Cultura a cancelar a agenda desse dia para se juntar a ele numa tentativa de salvamento que imediatamente se revelou um falhanço em toda a linha, foi talvez o mais emblemático. Coisa rara nele, Marcelo conseguiu neste caso não agradar a gregos nem a troianos.

Mas foi um episódio. Se é evidente que as relações entre Marcelo e Passos Coelho vivem provavelmente um dos momentos mais baixos da sua péssima história, as ótimas relações com o governo e com a generalidade dos portugueses servem como uma espécie de “compensação política”. Curiosamente, na sessão de cumprimentos do governo ao Presidente da República, enquanto Costa destacava as alegrias da coabitação com Marcelo, o Presidente decidiu-se por uma resposta mais institucional e menos afetuosa – o que está a fazer é simplesmente “cumprir a Constituição”.

Ao assinar o Acordo de Concertação Social, na penúltima semana do ano, o Governo foi ao encontro dos apelos presidenciais, alienando de resto os parceiros que o sustentam no parlamento. E se por várias vezes já o governo ignorou as recomendações do Presidente – nomeadamente quando insistiu na lei sobre o sigilo bancário que acabou objeto de veto político – desta vez, ao dar um sinal de aproximação aos patrões, fez também aquilo que Marcelo pediu que se fizesse. Aliás, o Bloco de Esquerda acusou Costa disso mesmo: de ceder ao Presidente da República.

Mas o primeiro ano de Marcelo fica marcado pelo aumento de uma fórmula interessante de PIB – o do afecto e do mimo coletivos.