A Proteção Civil considera que existe um grau de probabilidade “baixo” de acontecer um acidente na central de Almaraz, idêntico ao de Chernobyl, que coloque em risco a população portuguesa, considerando até mais provável um incidente com um reator num submarino no rio Tejo, que é classificado como tendo um risco “médio-baixo” – sendo ambas as ocorrências pouco expetáveis.
Esta é a análise do risco nuclear no país na Avaliação Nacional de Riscos em vigor em Portugal, adotada em 2014 pela Proteção Civil. Ontem, a Associação Nacional dos Bombeiros Portugueses pôs em causa a existência de planos de emergência nesta área.
Documentos fornecidos ao i pelo Ministério da Administração Interna atestam que o risco está estudado e que está organizada, numa diretiva operacional, a estrutura de comando e resposta em caso de incidente nuclear. Em maio do ano passado houve mesmo um exercício que simulou uma ocorrência em Almaraz, o que está previsto na diretiva operacional para responder a incidentes nucleares, radiológicos, biológicos e químicos, de 2010.
À TSF, em resposta à associação de bombeiros, o secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, garantiu que Portugal está preparado para reagir. Existem planos e equipamentos armazenados “em depósitos” para serem usados em caso de necessidade. Jorge Gomes disse ainda que os equipamentos “não estão distribuídos pelas corporações de bombeiros”, até porque “os bombeiros podem nem ser chamados”. Após estas declarações, a associação manteve a sua posição.
A documentação fornecida ao i revela que os bombeiros estão envolvidos nos planos em vigor, tendo funções específicas atribuídas, a par das demais entidades que seriam mobilizadas perante um incidente de origem nuclear. Ainda assim, no relatório do exercício realizado em 2016 não há registo de qualquer entidade corporativa dos bombeiros chamada a participar.
Em relação aos dois cenários, a Proteção Civil considera que o grau de risco – que combina a probabilidade de acontecer com a gravidade – seria “moderado” em Almaraz e “elevado” num incidente com um submarino.
O cenário trabalhado pela Proteção Civil em relação a Almaraz considera um acidente que ocorra durante o inverno, com características idênticas ao de Chernobyl em 1986. Os peritos entendem que é expectável que uma situação dessas ocorra numa janela de 200 anos, o que, tendo em conta o período de vida da central (que fará 40 anos em 2021), dá uma probabilidade baixa. Ainda assim, projeta–se que a explosão dos reatores atingiria, ao fim de um dia, os distritos de Castelo Branco, Portalegre e Guarda, e, ao fim de dois dias, a generalidade do centro e sul do país.
Em resultado do receio da população, seria expetável a deslocação de um grande número de pessoas dos distritos afetados para o litoral. Não se projetam vítimas mortais, mas ao fim de alguns dias verificar-se ia, sobretudo entra a população desses distritos, um “número anómalo de casos de indisposição” que iam exigir observação.
Já num segundo cenário, em que a Proteção Civil projeta um acidente num reator de um submarino nuclear atracado no Portinho da Costa (cais da NATO), o risco de contaminação radiológica obrigaria a evacuar a margem esquerda do Tejo desde a Trafaria até às imediações do Cristo--Rei. Não se registariam mortos ou feridos, mas ferimentos por contaminação precisariam de assistência e, por precaução, seriam suspensas a circulação na Ponte 25 de Abril, a navegação na barra do Tejo e as descolagens e aterragens no aeroporto de Lisboa.