O Governo não descartou a opção da nacionalização, mas está a apostar tudo na venda do Novo Banco. Para o conseguir, António Costa e Mário Centeno vão tentar que a Lone Star se associe ao consórcio Apollo/Centerbridge para em conjunto conseguirem oferecer uma proposta melhor.
Depois da reunião entre Mário Centeno e os americanos da Lone Star – realizada a pedido do fundo –, a proposta inicial de 750 milhões de euros já foi melhorada e o ministro das Finanças voltou a deixar claro que o negócio não se fará com garantias do Estado. Mas o encontro ainda foi inconclusivo e o SOL sabe que as negociações continuam.
Costa e Centeno estão apostados em conseguir vender o Novo Banco e vão tentar ao máximo melhorar as propostas que têm em cima da mesa. Mas o cenário de nacionalização continua a ser uma possibilidade real e já terá sido alvo de conversas preliminares com a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu. O SOL sabe que o assunto já foi debatido informalmente no Eurogrupo.
Costa tenta manter a pressão nas negociações
Para já, as declarações públicas de vários dirigentes socialistas que admitem que a saída pode passar por nacionalizar o Novo Banco – incluindo o presidente do PS Carlos César e o porta-voz João Galamba – ajudam a manter alta a pressão na mesa das negociações com a Lone Star e a Apollo/Centerbridge.
Costa quer evitar dar a ideia de que não tem alternativa à venda e de que terá mesmo de alienar o banco até 3 de agosto deste ano – a data limite acordada com Bruxelas – se não quiser liquidar o Novo Banco. Para o Governo, está «basicamente fora de questão», como afirmou esta semana Mário Centeno, encerrar o banco e é por isso que faz sentido manter em aberto a possibilidade de nacionalização.
Nos contactos preliminares que tem tido com as autoridades europeias, o Governo tem tentado perceber exatamente em que moldes seria possível fazer uma nacionalização temporária do banco. Um dos problemas que há para resolver é saber se será possível fazê-lo sem que isso pese no défice, sabendo à partida que o Novo Banco terá de ser recapitalizado – com um mínimo de 750 milhões e euros já este ano – e que essa recapitalização terá de cumprir as regras europeias para não ser entendida como ajudas de Estado.
O dossiê é complexo porque o Novo Banco é um banco de transição e não há um histórico claro que permita saber em que moldes poderia ser feita uma nacionalização, ainda que temporária. Uma coisa é certa: a recapitalização autorizada ao banco italiano Monti dei Paschi é vista no Governo como um precedente que pode ser usado nas negociações com Bruxelas e Frankfurt para convencer as autoridades europeias a dar luz verde a uma nacionalização temporária do Novo Banco.
Marcelo preocupado com nacionalização
O SOL sabe que o Presidente da República tem acompanhado de perto este dossiê e que acredita que será possível travar a nacionalização que poderia ter um impacto muito negativo para as contas públicas.
Marcelo tem evitado comentar o tema por considerar que se trata de matéria sensível, mas mantém a expectativa de que as negociações com os fundos interessados na compra do Novo Banco cheguem a bom porto.
A única vez que o Presidente falou sobre o processo do Novo Banco foi no dia 4 de janeiro, no fim de uma visita a uma escola no concelho de Cascais. «Eu acho que é prematura uma opinião. O Banco de Portugal ainda não se pronunciou publicamente, o Governo vai depois pronunciar-se», disse Marcelo.
Enquanto o Presidente acredita que o cenário da nacionalização é remoto, os parceiros de esquerda e os deputados do PS não. Em entrevista ao i, Galamba afirmava: «Penso que só resta a nacionalização do Novo Banco».
Ontem, Jerónimo de Sousa, depois de um encontro com o PS, voltou a defender a nacionalização definitiva do Novo Banco. «Não concordamos com a nacionalização temporária. Não pode acontecer os portugueses ficarem com os ossos e o bife do lombo voltar para as mãos do capital», disse o secretário-geral do PCP.
Catarina Martins foi mais longe e acusou a agência de rating canadiana, a DBRS, que afirmou que a nacionalização era um risco, de ser um instrumento da «chantagem europeia». «O que está a acontecer é uma chantagem europeia por via da DBRS, querendo dizer que os contribuintes têm de pagar para entregar um banco limpo com dinheiros públicos a um fundo abutre estrangeiro, que irá fazer dinheiro rapidamente com os ativos e isso é inadmissível», disse a coordenadora do BE.