Pedro Passos Coelho chamou a si a decisão sobre Lisboa e anunciou no sábado à noite que não haverá coligação com o CDS na corrida à capital. Cansado de uma novela que se arrastava há meses, com a contestação da concelhia e as negociações com os centristas num impasse, o líder do PSD pôs um ponto final na ideia de que o partido poderia apoiar Assunção Cristas nas próximas autárquicas.
Apesar de na última semana ter dado indícios de que seria essa a sua decisão, concelhia e distrital foram apanhadas de surpresa pelo timing das declarações de Passos Coelho.
“Há uns cinco ou seis dias que Passos deu indicações de que ia clarificar, mas não sabíamos como nem tínhamos a certeza de em que sentido”, conta uma fonte da concelhia, lamentando que Passos tenha esperado tanto tempo para ir ao encontro do que esta estrutura local sempre defendeu. “Para dizer isto, podia ter dito em setembro”, comenta a mesma fonte, apontando para o que falta: definir o candidato.
Depois de meses de uma guerra surda entre a concelhia, que sempre insistiu em ter um candidato próprio, e a distrital, que sempre defendeu o apoio a Cristas, vê-se neste desfecho a derrota do líder distrital Miguel Pinto Luz. “Se há quem tenha ficado a perder, foi a distrital”, aponta outra fonte da concelhia, sublinhando que este desfecho é a prova de que “a distrital não controla o concelho” e de que “o líder agarrou o processo”.
Impasse era ultrapassável
Na distrital recusa-se comentar a decisão de Passos Coelho. Mas assegura-se que o impasse nas conversas informais – nem PSD nem CDS querem falar em “negociações” – para um acordo pré-eleitoral “era ultrapassável” e, só por si, não justifica a decisão de Passos.
Certo é que da parte da estrutura liderada por Miguel Pinto Luz não haverá contestação à decisão do líder. “Passos tomou a decisão, está tomada”, assegura uma fonte da distrital.
Mais do que uma opção
Depois de definido que Cristas não será a candidata do PSD por Lisboa, falta saber quem será. E se a incógnita inquieta a concelhia, que gostaria de ter este dossiê encerrado há meses, o coordenador autárquico do partido garante que não há motivo para ansiedade.
“Temos mais do que uma possibilidade”, garante ao i Carlos Carreiras, prometendo “uma surpresa” para quem acha que o PSD está sem opções para a capital. Carreiras diz que o partido está a trabalhar em alguns nomes e que há a possibilidade de aparecer mais do que um com características para liderar a lista “em lugares elegíveis, mas não como número um”. Carreiras fecha-se em copas sobre quem poderão ser estes nomes, mas adianta quem não será. “Pedro Passos Coelho nunca foi uma hipótese”, afiança.
Menos pressão para Cristas
Carlos Carreiras desvaloriza a sondagem que este sábado mostrava que Cristas seria a candidata favorita dos eleitores que votaram na PàF nas legislativas. “A diferença que lhe dá vantagem é tão pequena que cabe na margem de erro”, sublinha, lembrando que a forma como o processo foi desencadeado por Assunção Cristas torna normal o desfecho. “A recusa de coligação veio do CDS quando decidiu, e bem, anunciar uma candidatura própria a Lisboa ainda durante o congresso do ano passado”, recorda, frisando que nem o PSD podia condicionar os centristas nem o calendário de Cristas podia impor-se aos sociais-democratas.
No CDS é que não se quer comentar, para já, a decisão de Passos, mas há uma conclusão clara: sem o apoio do PSD, Assunção Cristas deixa de ter a mesma pressão para um resultado ganhador. Qualquer valor acima dos 8% poderá ser reclamado pela líder do CDS como uma vitória.
“PSD e CDS estão juntos em vários municípios. Noutros não, como é o caso de Lisboa” Pedro Passos Coelho 14 de janeiro de 2017 “Não será provável que seja uma mulher, mas pode ser. Se eu puder anunciar Lisboa em fevereiro, anunciarei” Carlos Carreiras 12 de janeiro de 2017 “Se o PSD entender juntar-se ao nosso projeto para, juntos, afastarmos Fernando Medina, ficaria muito satisfeita” Assunção Cristas 5 de janeiro de 2017“PSD e CDS estão juntos em vários municípios. Noutros não, como é o caso de Lisboa”