Depois das legislativas, cada um foi à sua vida. Mas era evidente o clima cordial entre PSD e CDS. Agora, o verniz começou a estalar e é cada vez mais notório que Pedro Passos Coelho e Assunção Cristas não estão em sintonia.
Cristas não esconde, de resto, que não gostou de ter sabido pela comunicação social que, afinal, não contava com o apoio de Passos para a sua candidatura à Câmara de Lisboa. Deixou-o claro, ontem, numa entrevista à SIC Notícias, na qual confessou que teria preferido que o líder do PSD lhe tivesse ligado antes a avisar de que iria fazer aquelas declarações aos jornalistas no sábado à noite.
Ao i, uma fonte próxima da líder centrista vai mais longe e fala mesmo em “deselegância” na forma como Passos Coelho escolheu tornar público que não haveria coligação em Lisboa antes mesmo de informar o CDS.
O modus operandi de Passos Coelho chocou os centristas, mas a decisão não os surpreendeu completamente. Há muito que no Largo do Caldas havia a ideia de que Passos estava a “enrolar o assunto” e de que não valia a pena estar à espera do PSD. “Passos está-se marimbando para as autárquicas e o CDS só perdia se não tivesse avançado com a sua candidatura”, aponta uma fonte centrista.
PSD e CDS afastam-se também no desconto da Taxa Social Única (TSU) para os patrões. “Não estamos do lado do governo, mas entendemos que faz sentido proteger aquilo que é o acordo da concertação social”, avisou ontem Cristas, anunciando que o CDS se irá abster na votação das propostas de cessação de vigência do desconto apresentadas por BE e PCP que serão discutidas no dia 25 de janeiro.
A explicação de Assunção Cristas para a abstenção centrista vai ao âmago do pomo da discórdia entre os sociais-democratas. A líder do CDS justificou a decisão não com a concordância com a medida, mas com o argumento de que os centristas valorizam “muito” a concertação social e “não faz sentido não poder ajudar a que esse acordo venha a ser cumprido”.
Assunção foi sensível aos argumentos que ouviu nos últimos dias não só dos patrões, mas também da UGT para salvar o acordo de concertação social.
As pressões de que Passos Coelho – que receberá hoje a UGT na sede do PSD – está a ser alvo são grandes. Mas o líder social-democrata não parece disponível para um recuo: mesmo que isso o deixe a votar ao lado de bloquistas e comunistas e não daquele que até agora foi sempre o seu parceiro natural, o CDS.
A nova atitude de Passos de evitar a todo o custo ser “muleta” da solução de governação de António Costa deve deixá-lo mais vezes distante do CDS. No entanto, este afastamento entre sociais-democratas e centristas não deve ser visto como um divórcio definitivo ou uma rutura.
“Tudo é ultrapassável”, assegura um dirigente centrista, deixando claro que mesmo nos momentos em que se afastam PSD e CDS continuam a ser parceiros preferenciais para chegar ao poder. M.D.