“Esta semana foi muito importante. Foi muito importante porque se percebeu que a maioria que apoia o governo só apoia o governo para a demagogia e para o populismo, não apoia o governo para governar.” A frase é de Pedro Passos Coelho, em Esposende, num evento de preparação para as autárquicas.
O presidente do PSD recordou os eventos da semana e o caminho que o partido faria a partir dali. “O primeiro-ministro não teve coragem de ir ao parlamento; mandou ao parlamento o ministro Vieira da Silva, que reconheceu que o ritmo de crescimento do salário mínimo nacional que o governo tinha negociado com o Bloco de Esquerda não era sustentável no longo prazo”, apontou Passos. “O Partido Comunista, o Bloco de Esquerda e Os Verdes já tinham dito ao governo que não aprovariam aquela medida prometida pelo chefe do governo. Ainda assim, o chefe do governo resolveu assinar um acordo que não conseguiria cumprir”, atacou Passos outra vez em direção a António Costa.
Duro de roER “Quando o governo perder a sua maioria e a sua legitimidade, que não se vire para o PSD; é no Bloco de Esquerda e no Partido Comunista que tem de procurar apoio. Quem se recusou a apoiar-nos desde o princípio não tem autoridade para nos pedir apoio”, avisou ainda o ex-primeiro-ministro, e adiantou mais: “Aqueles que pensam que nos desmobilizam com o artifício que criaram podem hoje ter a certeza de que nós somos um osso bem mais duro de roer do que eles pensaram.”
A importância de uma semana
No PSD foi-se de “depois das autárquicas ele vai sair” para “ele vai voltar a ser primeiro-ministro”. As conversas de corredor na Assembleia da República têm um reconhecido valor relativo, mas o certo é que o tom mudou. Entre os sociais-democratas, os barões calaram-se, os deputados entusiasmaram-se e os contestatários – ou os putativos e eventuais contestatários – desapareceram a deixar pouco rasto.
Passos lidera a oposição e o chumbo da redução da TSU ao lado dos partidos que sustentam o governo do PS animou as hostes. “Ele encostou o primeiro-ministro às cordas; é ver a maneira como Costa não conseguiu responder decentemente”, aponta ao i um deputado da bancada parlamentar do PSD. No debate quinzenal da semana corrida, Passos perguntou a António Costa qual o valor do défice sem medidas extraordinárias (como cativações e perdões de dívida) e, ao fim de três tentativas, Costa ironizou: “Terá a resposta quando o diabo cá chegar” – uma tentativa de fuga que alguns parlamentares apontam como um sinal de que Passos apertou o nervo certo.
Não é novo?
Nas vice-presidências, todavia, a lógica de um ressuscitar da liderança de oposição não é assumida. Aliás, Passos Coelho até o disse este fim de semana: “Estamos na oposição como estivemos em governo.”
O i falou com António Leitão Amaro, deputado social-democrata, e este afirma que “há mais continuidade na estratégia do presidente do PSD do que algumas pessoas querem fazer parecer”. “Responsabilizar a maioria [parlamentar das esquerdas] não é novo; faz-se há um ano”, clarifica o vice-presidente do grupo parlamentar laranja.
Sérgio Azevedo, também na vice-presidência da bancada, salienta o “desplante” que é o governo “culpar o PSD e Pedro Passos Coelho quando estão escolas fechadas ou sem funcionários, hospitais em dificuldades, serviços públicos em rutura devido a cativações e os juros da dívida a dez anos acima dos 4%”. Esse, para Azevedo, “é um mandato com o qual o PSD não se vincula”. “Os camaradas do tempo novo que se orientem entre eles. O nosso projeto é alternativo, não é complementar”, remata o deputado.