O pormenor faz toda a diferença, porque não trava a lei que passa a transportadora para as mãos da Câmara de Lisboa e os termos em que será redigida a proposta de alteração tornam muito improvável que o PSD se alie à esquerda para atacar uma medida do Governo.
"Apresentaremos propostas de alteração e não a cessação de vigência. A cessação de vigência tem um problema que é óbvio, criar a dúvida sobre o que aconteceria às empresas, num momento em que os decretos-lei já produzem efeitos. A nossa perspetiva não é contribuir para criar dificuldades às empresas públicas de transportes”, avançou João Oliveira em declarações aos jornalistas.
Os comunistas ainda não revelam em que sentido serão as propostas de alteração que estão a preparar, mas serão coerentes com o partido tem dito sobre a propriedade das empresas de transportes públicos. Logo, incompatíveis com as ideias de PSD e CDS que defendem a concessão a privados destas entidades.
João Oliveira revelou apenas que as propostas do PCP serão no sentido de manter a Carris “no setor empresarial do Estado”, numa defesa da manutenção na esfera pública que não deverá recolher apoios à direita.
De resto, o líder parlamentar comunista voltou a lembrar que o PCP defende que os concelhos nos quais a Carris opera, como Oeiras, Loures e Amadora, devem ter uma palavra a dizer na gestão da empresa que o Governo decretou que passaria apenas para as mãos da Câmara de Lisboa já a partir de 1 de fevereiro.
“As Câmaras devem ter uma palavra a dizer. Mas não julgamos que isso deve fazer-se confundir com a gestão ou propriedade [direta das empresas]”, disse João Oliveira, abrindo a porta a uma solução que vai ao encontro da posição do BE e que não deve chocar de frente com as pretensões do Governo.
Tudo somado, a solução encontrada pelo PCP para tentar alterar uma lei com a qual sempre disse não concordar não deve dar margem de manobra a que Pedro Passos Coelho use a sua nova estratégia de oposição votando ao lado da esquerda para ilustrar as fragilidades dos entendimentos dos partidos que apoiam o Governo.
De resto, João Oliveira rejeita a ideia de a divergência em torno da Carris seja suficiente para beliscar o cimento que une os parceiros que sustentam o Governo no Parlamento.
“É relativamente absurda a ideia de que a discussão política fragiliza o que quer que seja”, defende o deputado comunista.