A direita azedou. O acordo-quadro assinado entre PSD e CDS para as eleições autárquicas de 2017 está em risco. Conversas para coligações por fechar estão paradas; algumas nem sequer chegaram a acontecer e assim podem ficar.
Foi há cerca de um mês que os coordenadores autárquicos e os secretários-gerais de cada partido se reuniram para assinar um acordo que visava uma coligação entre ambos, sempre que fosse “essa a vontade das estruturas locais”, numa tentativa de reeditar as 19 vitórias que uma aliança do centro-direita trouxe nas autárquicas de 2013.
No entanto, hoje, o cenário é diferente. Não há uma coligação governamental em exercício que cimente a relação entre os centristas e os sociais-democratas, há uma presidente do CDS-PP com ambições no maior município do país e um líder da oposição que se comprometeu em ter mais câmaras que o Partido Socialista como resultado final.
Mas há mais: o partido com maior representação parlamentar continua sem candidato para a capital e não apoiou o tradicional aliado na candidatura da sua presidente, causando uma degradação no clima entre PSD e CDS. E há consequências.
Este mês, Assunção Cristas não gostou que Pedro Passos Coelho descartasse uma coligação de apoio à sua candidatura sem aviso prévio e em 2016 foi o PSD que não gostou de ver a recém-eleita líder do CDS-PP assumir uma candidatura autónoma em Lisboa sem diálogo preliminar.
Contudo, o i sabe que Cristas depois informou Passos da intenção de ser ela própria a candidatar-se. O presidente do PSD não lhe terá pedido para esperar.
sem porto, sem festa
“Para apoiarmos o CDS em Lisboa, tinha que haver coligação no Porto. A partir do momento em que a presidente do CDS não abdica de apoiar Rui Moreira [uma intenção também vinculada em congresso], Lisboa caiu para o PSD”, esclarece fonte do conselho nacional social-democrata, sobre a possibilidade do partido ter apoiado Assunção Cristas depois de falhar em conseguir Pedro Santana Lopes como candidato.
Passos, por sua vez, tem mantido distância do processo autárquico a nível nacional, resguardando-se, mas intervindo na questão de Lisboa. Além de já ter feito convites – e recebido recusas – também foi ele a dizer pela primeira vez que não apoiaria a candidatura do CDS, quando, ao que o i apurou, era uma possibilidade que não desagradava à sua coordenação autárquica, chefiada por Carlos Carreiras.
Ontem, João Gonçalves Pereira – o porta-voz de Cristas que negociou o distrito lisboeta com Miguel Pinto Luz, seu homólogo social-democrata – disse a este jornal que, respeitando a posição de Passos, “o CDS mantém a mesma disponibilidade para entendimentos em Lisboa com o PSD”. Para um alto-dirigente do PSD, tal serviu apenas “para passar a imagem” que foi o PSD “a não querer uma coligação”, visto que “sabem que agora já é tarde”.
Problemas no paraíso
O facto é que a descoordenação entre os centristas e os sociais-democratas na trama lisboeta causou desavenças e, conta a referida fonte ao i, “perdeu-se iniciativa para negociações” depois do insucesso das conversas para apoiar Cristas.
Do Largo de Caldas, aponta-se que “Assunção Cristas não colocaria em causa um acordo nacional por causa de Lisboa”. “E quem viu os números do PSD nas sondagens percebe isso…”, atira também um quadro do CDS, ao i.
Em Leiria, com o PSD a avançar com Fernando Costa, os centristas descartam coligação devido a divergências estratégicas e ideológicas.
Em Coimbra, os sociais-democratas continuam sem candidato escolhido e ainda está tudo por decidir.
Em Sintra, o i sabe que o CDS nega a aliança devido à proposta ser, diz fonte centrista que se reservou ao anonimato, “para um vereador em lugar não elegível”.
Em Portimão, tendo o CDS há quatro anos ficado à frente do PSD perante a vitória socialista, no Caldas pretendia-se encabeçar a lista – cenário que não agrada aos sociais-democratas e tem dado dores de cabeça a ambos.
Em Aveiro, Cristas já manifestou o seu apoio ao atual presidente da Câmara, Ribau Esteves, do PSD, mas os sociais-democratas não reúnem consenso sobre a renovação do apoio ao seu nomeado, o que causa impasse entre os partidos do centro–direita.
Em Meda, no Norte, também não há acordo à vista e sobre Loures e Odivelas ainda nem se falou, embora ambas as câmaras façam parte da Grande Lisboa, que Pinto Luz e Gonçalves Pereira pontualmente debateram.
Onde, excepcionalmente, se conseguiu harmonia foi no município da Amadora. O i sabe que, além de já haver coligação acordada, também há cabeça-de-lista em comum. Será apresentado ao público no início de fevereiro.
Perante a restante turbulência, um membro do antigo governo PàF adverte: “Quando nos sentarmos à mesa depois das legislativas não poderá ser assim…”.
O Presidente da República havia declarado as autárquicas como ponto de mudança de ‘ciclo político’. À direita, não se ouviu.