Orgulhos e preconceitos. Em Lisboa, a novela continua à direita.
Carlos Barbosa, que preside ao Automóvel Clube de Portugal e integrará a lista do PSD à Câmara da capital, convidou Assunção Cristas para um almoço com Mauro Xavier, o presidente da concelhia do PSD/Lisboa.
João Gonçalves Pereira, presidente da distrital do CDS/Lisboa e porta-voz da candidatura dos centristas à Câmara Municipal, acompanharia Cristas, contou ao i um membro do conselho nacional laranja.
No entanto, da São Caetano à Lapa veio um aviso: o almoço seria perda de tempo e só Passos Coelho está mandatado para decidir o assunto ‘Lisboa’. E ao que o i apurou, o ex-primeiro-ministro só tenciona revelar o seu nome em março, na última leva de candidatos do PSD às autárquicas deste ano. Ontem, depois de uma reunião da comissão política nacional, saíram os primeiros quarenta e seis.
O convite para o almoço vem depois de Mauro Xavier, que sempre defendera acordos somente pós-eleitorais, ter acusado o CDS de nunca ter desejado “a direita unida em Lisboa para ganhar a Câmara” a Fernando Medina e de Gonçalves Pereira responder, ao i, que os centristas mantinham a “disponibilidade para entendimentos em Lisboa com o PSD”.
O convite surge então depois de o CDS apostar em não fechar a porta ao seu aliado tradicional, mas o facto de não se ter consumado transparece que o assunto lisboeta está encerrado para os dois partidos de centro-direita. Assunção Cristas não foi, Mauro Xavier apanhou um avião para a Finlândia em viagem de negócios, e Carlos Barbosa acabou por almoçar sem a presidente do CDS-PP. O i sabe que o homem do ACP não desfavorecia um cenário de grã-coligação à direita e o almoço procuraria um entendimento até agora impossível, mas a palavra final está agora com Pedro Passos Coelho e o presidente do Partido Social Democrata assim a preserva.
“Se Assunção Cristas quer voltar à mesa de negociações só pode fazê-lo indo falar com o presidente do PSD. Agora, os outros canais estão mais que esgotados”, aponta ao i fonte próxima do processo que optou por reservar-se ao anonimato.
À hora do fecho desta edição, os centristas escusaram-se a comentar a circunstância.
Separação sem divórcio?
Se em Lisboa o convívio continua infeliz, o PSD e o CDS mostram algum empenho em harmonizar as tensões que vinham surgindo no acordo-quadro para as Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia de todo país.
Ontem, o i noticiava problemas nas conversações em Aveiro, Mêda, Portimão, Coimbra e a ausência de diálogo para as câmaras de Loures e Odivelas desde que Passos Coelho negou publicamente o apoio do PSD à candidatura de Cristas à capital, Lisboa.
Depois disso, os sociais-democratas lançaram a primeira fornada de candidatos às câmaras, confirmando independentes e quadros próprios, e respondendo a algo que vinha prejudicando a relação entre os partidos do centro-direita neste processo: a demora no calendário do PSD em apresentar os seus nomes, para o CDS saber o que estava a negociar em cada muncípio e as possibilidades de haver – ou não – coligação respetiva.
Coimbra, todavia, continua por fechar, sendo uma das autarquias que fazia tocar os alarmes no Largo do Caldas.
Álvaro Almeida, um independente, foi confirmado como candidato do PSD à Câmara Municipal do Porto, onde o CDS apoia o atual presidente Rui Moreira com o Partido Socialista. Fernando Costa, que o CDS também descarta apoiar, foi igualmente confirmado pela sede nacional dos sociais-democratas. E Marco Almeida, cuja candidatura não oferece um lugar em lista que satisfaça o CDS, também foi confirmado ontem pelo PSD.
terapia de casal
O relógio acelerou e hoje Carlos Carreiras, Domingos Doutel, José Matos Rosa e Pedro Morais Soares, os coordenadores autárquicos e os secretários-gerais do CDS e do PSD, reúnem-se para procurar resolver os impasses entre o acordo autárquico nacional.
Ontem, Carlos Carreiras afirmou que haveriam mais de 92 coligações entre os dois partidos nestas autárquicas, embora aponte até ao fim de março para a conclusão desses acordos e o CDS continue sem comprometer-se com um número fixo. Sobre a reunião de hoje, Assunção Cristas limitou-se a considerá-la como “uma como tantas outras que têm havido até agora, de olhar para este processo, para o caminho que já foi percorrido e o que falta acertar”.
A ver se acertam.