ONU. O que pode fazer Guterres? Para já, pouco

O novo secretário-geral não tem sequer autorização para escolher os seus próprios diplomatas

António Guterres e as Nações Unidas responderam de imediato às declarações de Donald Trump em que o presidente americano sugere poder apoiar uma solução de “um Estado” para o conflito israelo-palestiniano. “Não existe solução alternativa para a situação entre os palestinianos e os israelitas que não seja a de estabelecer dois Estados, e devemos fazer tudo o que podemos para preservar isto”, disse o ex–primeiro-ministro português no Cairo, onde se encontrava na quarta-feira. Como recém-empossado líder das Nações Unidas, Guterres defendeu o consenso mundial sobre a via para a paz na região. Mas sem o apoio dos Estados Unidos, e batalhando ainda para ter os diplomatas que deseja para os órgãos mais importantes, há pouco que Guterres possa fazer, por enquanto, pelo Estado Palestiniano. 
A Autoridade Palestiniana não tem força para além da pressão diplomática internacional, mas Guterres está ocupado por estes dias com os entraves colocados pelos membros permanentes do Conselho de Segurança, que, de acordo com a revista “Foreign Policy”, não estão dispostos a aceitar que o secretário-geral das Nações Unidas escolha figuras de outros países para cargos importantes na organização. A equipa do antigo primeiro-ministro anunciou na terça que um diplomata francês ficará a cargo do órgão de manutenção de paz, prolongando o domínio nos últimos 20 anos de franceses nesse lugar. Por estes dias, aliás, o Reino Unido e a China são as grandes favoritas para coordenar a agência de envio de ajuda de emergência e o gabinete dos assuntos sociais e económicos, respetivamente, como aconteceu até hoje. Mais um grande obstáculo para Guterres é não poder deixar de ter um norte-americano como subsecretário-geral para os assuntos políticos, que continuará a ser, até 2018, Jeffrey Feltman. Uma fonte diplomática dos Estados Unidos confirmou à “Foreign Policy” que o pedido de Guterres foi recusado. “Não estivemos dispostos a mostrar boa vontade”, afirmou a fonte não identificada. “Imagino que terá sido uma desilusão para ele.”
Desiludido ou não, Guterres está, por estes dias, ainda a tentar cortejar uma relação favorável com os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança para conseguir aliados de peso na luta contra a posição de Washington no que diz respeito ao conflito israelo-árabe, apesar do consenso internacional.

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