O debate era uma interpelação ao Governo sobre supervisão bancária pedido pelo CDS, mas serviu também para mais um momento de crispação parlamentar. Desta vez, as armas não foram as defesas da honra, os apartes e as pateadas, mas a distribuição de documentos pelos deputados. Foi um momento insólito que traduz uma tensão crescente entre esquerda e direita dentro das portas do Parlamento, mesmo que fora Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa se esforcem para "descrispar".
A primeira interpelação à mesa com um pedido de distribuição de documentos foi feita por Paula Teixeira da Cruz, que quis que o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, entregasse aos deputados a ata da Comissão Parlamentar de Inquérito na qual Ricardo Salgado elogiava a atuação de Mariana Mortágua.
Para Teixeira da Cruz, esse seria um documento importante para ilustrar "concluios".
Depois, foi a vez Nuno Magalhães não gostar de ver os deputados do PCP Miguel Tiago e João Oliveira referirem-se ao CDS como "o partido dos offshores".
Para rebater o epíteto, Magalhães pediu a Ferro Rodrigues para distribuir uma notícia sobre um alegado donativo do BES para aquilo que o centrista disse ser "o offshore da Festa do Avante".
Foi o mote para João Oliveira afirmar que já antecipava "o truque do CDS" e que por isso trouxe um documento que, segundo afirmou, comprovará que não houve donativo porque o PCP pagou 20 mil euros pela montagem de terminais ATM na Quinta da Atalaia para a Festa do Avante.
A reação de João Oliveira levou a nova interpelação à mesa de Nuno Magahães para pedir a distribuição de uma nota do jornal que publicou a notícia sobre o Avante reafirmando-a. "Também já conhecemos os truques do PCP", justificou o centrista, com o papel já na mão para que os serviços da Assembleia o pudessem copiar e distribuir pelos deputados.
O debate sobre supervisão bancária – feito a pedido do CDS – foi retomado. Mas ainda houve tempo para mais pedidos de distribuição de documentos.
António Leitão Amaro, do PSD, pediu para que fosse dado aos deputados o Programa de Assistência Financeira de maio de 2011, assinado pelo Governo PS, no qual se afirma que a recapitalização da CGD seria feita só com recursos internos gerados pelo próprio banco e não pelo Estado.
Nesse momento, nem a bancada do Governo resistiu a entrar na troca dos papéis.
O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, pôs o dedo no ar para pedir a palavra ao presidente da Assembleia da República e pediu para serem distribuídas pelos deputados as atas da audição de ontem a Nogueira Leite, na Comissão de Inquérito à CGD, onde o antigo vice-presidente da Caixa revelou ter saído por considerar insuficiente o aumento de capital decidido pelo anterior Governo para o banco do Estado.
Minutos mais tarde, o líder parlamentar comunista confessou temer estarem a ser excedidas as interpelações à mesa, mas fez nova intervenção para pedir a distribuição do projeto-lei do PCP com reforço dos poderes de supervisão do Banco de Portugal, incluindo algumas propostas que João Oliveira acredita serem coincidentes com as do CDS e que foi chumbado com os votos contra dos sociais-democratas e dos centristas.