O Banco Central Europeu (BCE) decidiu ontem, ao início da tarde, manter os juros de referência em mínimos históricos e o programa de estímulos à economia, numa altura em que o objetivo definido para a inflação se materializa e a pressão para o fim do programa de compra de ativos aumenta.
O conselho de governadores do BCE – os 19 governadores dos bancos centrais dos países da zona euro e ainda seis membros da direção do BCE – decidiu “que a taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento e as taxas de juro aplicáveis à facilidade permanente de cedência de liquidez e à facilidade permanente de depósito permanecerão inalteradas em 0,00%, 0,25% e -0,40%”.
Em comunicado, o banco central acrescenta “esperar que as taxas de juro diretoras do BCE permaneçam nos níveis atuais ou em níveis inferiores durante um período alargado e muito para além do horizonte das compras líquidas de ativos”.
O programa de estímulos à economia foi lançado no início de 2015, altura em que a deflação – tendência de descida dos preços e salários – era uma ameaça. Dois anos depois, o risco diminuiu. Ainda assim, o “BCE confirma que continuará a efetuar aquisições ao abrigo do programa de compra de ativos ao atual ritmo mensal de €80 mil milhões até ao final do corrente mês e que, a partir de abril de 2017, as compras líquidas de ativos prosseguirão a um ritmo mensal de €60 mil milhões até ao final” do ano ou até que a trajetória da inflação esteja sustentada.
De acordo com dados do Euro-stat da semana passada, a inflação na zona euro chegou aos 2% em fevereiro, ultrapassando pela primeira vez desde 2013 o objetivo do BCE de o indicador chegar “perto, mas abaixo dos 2%”.
Estes dados têm elevado o tom das críticas à política do BCE e ainda ontem o presidente do think tank alemão Ifo defendeu que “é tempo de o BCE começar a reduzir a sua política monetária expansionista”.
Em comunicado, Clemens Fuest diz que o BCE “deveria tirar o pé do acelerador e reduzir as compras de dívida ao ritmo de 10 mil milhões de euros por mês”. Se não o fizer, “arrisca ultrapassar a sua meta” de inflação.
Também o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, defendeu um “início atempado de uma saída do plano de estímulos monetários”.
Necessidade
Só que o presidente do BCE diz que continuam a ser “necessários estímulos monetários muito substanciais para gerar pressões na inflação”, apesar de “a urgência colocada pelos riscos de deflação” ter deixado de existir. Segundo Mario Draghi, “a ênfase está agora na implementação total das atuais políticas, e não na possibilidade de as reforçar”.
Isto porque, revelou Draghi, a equipa técnica do BCE reviu em alta a previsão de inflação para a zona euro em 2017 e 2018, e a situação económica está melhor que há um ano. O BCE aponta um crescimento de 1,8% este ano, 1,7% em 2018 e 1,6% em 2019.
Os riscos para o crescimento, diz Draghi, são hoje menores.