Costa a falar para a esquerda

Num momento em que BE e PCP começam a pôr em cima da mesa as exigências para o Orçamento de 2018, António Costa tentou ultrapassar o mal-estar gerado pela venda do Novo Banco com um discurso sobre políticas sociais.

António Costa veio hoje ao Parlamento com um objetivo: lembrar aos parceiros de esquerda que apesar dos constrangimentos e dos faseamentos esta solução de Governo é a única que garante avanços na reposição de direitos e rendimentos.

No dia em que o INE reviu em baixa o défice de 2016 para os 2% – o valor mais baixo da História do Portugal democrático -, Costa veio lembrar BE e PCP que é possível compatibilizar as metas europeias com um programa de políticas sociais.

"Estes dois objetivos não podem ser antagónicos", vincou o primeiro-ministro que acredita que "só com contas públicas estáveis podemos ter um Estado social mais forte", com um défice baixo conseguido através "de um modo sadio e não de cortes cegos".

Costa lembrou ainda os dados recentemente revelados pelo Eurobarómetro, segundo os quais "de 2015 para 2016 a confiança dos portugueses no Governo e nesta Assembleia da República duplicou".

Os recados para os parceiros da esquerda são claros. Mas a mensagem do primeiro-ministro que disse na Renascença na semana passada que gostaria de repetir os acordos à esquerda mesmo com maioria absoluta vai também para um eleitorado que parece satisfeito com aquilo a que a direita chama "geringonça".

BE e PCP não parecem, contudo, muito convencidos. Estão descontentes com a forma como o Governo não tentou sequer bater-se pela nacionalização do Novo Banco em Bruxelas e estão insatisfeitos com a degradação dos serviços públicos e com a proposta de despenalização das carreiras contributivas mais longas apresentadas pelo Governo.

Jerónimo de Sousa falou mesmo num "sentimento de desilusão profunda" perante a proposta sobre as pensões para quem tem mais de 40 anos de descontos e 60 ou mais anos.

Mas Costa quis deixar a mensagem de que está disponível para continuar a negociar à esquerda "porque é isso que os portugueses esperam de nós" e que a solução governativa não está esgotada. "2017 é só o primeiro ano do resto das nossas vidas", disse num piscar de olho a BE, PCP e PEV.

"Ao longo destes 500 dias sempre pude encontrar em todos os partidos que protagonizaram esta solução de Governo um espírito construtivo", afirmou António Costa, que quer continuar a honrar os compromissos à esquerda.