Depois de vários dias consecutivos de protestos violentos contra o governo de Nicolás Maduro, marcados por confrontos entre entre manifestantes e a polícia, a capital da Venezuela foi palco de uma demonstração pacífica no passado sábado. Na chamada “marcha do silêncio”, participaram milhares de pessoas, vestidas de branco e, lideradas por Henrique Capriles – governador do estado de Miranda, ex-candidato presidencial e líder do partido maioritário da Mesa da Unidade Democrática (MUD), a coligação opositora que detém a maioria da Assembleia Nacional –, caminharam pelas ruas de Caracas, com o intuito de homenagear as 20 vítimas mortais que resultaram dos protestos da últimas três semanas.
“Mobilizamo-nos em toda a Venezuela pelos que caíram, pelas vítimas e por todos os venezuelanos que estão a lutar para que tenhamos uma solução dentro da Constituição”, afirmou Capriles, citado pelo diário espanhol “El Mundo”.
A caminhada silenciosa, que terminou na sede episcopal de Caracas, foi acompanhada bem de perto pelas forças policiais venezuelanas e, pese ter incluído zonas da capital ditas “oficialistas”, decorreu sem quaisquer altercações ou problemas. Segundo o jornal local “El Universal”, chegar ao destino final do percurso foi “já foi um triunfo para a oposição”.
A Venezuela atravessa uma das maiores crises políticas e económicas da sua História, e, provavelmente, a mais grave desde que Maduro substituiu o falecido Hugo Chávez no Palácio de Miraflores, apenas comparada com a onda de protestos de fevereiro de 2014. O governo acusa a oposição de estar a conspirar com países estrangeiros , no sentido de tomar o poder pela força, e não pela democracia. Do lado da MUD, pede-se a definição de um calendário eleitoral, a libertação dos presos políticos e a aceitação de ajuda humanitária para fazer frente à fome e à pobreza que assola o país.
A já deteriorada relação entre as duas partes atingiu níveis altíssimos de hostilidade quando, no final do mês passado, o Tribunal Supremo de Justiça do país decidiu retirar competências legislativas e orgânicas ao parlamento. O governo ainda conseguiu reverter a decisão do tribunal, mas não conseguiu impedir a organização de manifestações massivas, em várias cidades e estados da Venezuela.
As tradicionais celebrações do dia 19 de abril – a mesma data em que, há 207 anos, os venezuelanos começaram a lutar contra o domínio espanhol no país – definiram um novo capítulo nos protestos, uma vez que, desde essa altura, apoiantes e opositores do presidente socialista têm marcado presença nas ruas, quase diariamente. “Vamos permanecer na rua. Esta não é hora de desistir, é hora de resistir”, apelou Capriles, durante o protesto de ontem. “Se todos os venezuelanos se unirem, não haverá cúpula corrupta que possa com a força de cada um deles”, acrescentou ainda, antes de apelar à participação, na próxima segunda-feira, no bloqueio das principais estradas da Venezuela.