Por muito que queiramos – ou tentemos –, não dá: é impossível falar de um jogo do Real Madrid na Champions sem dar enorme destaque a Cristiano Ronaldo. E por uma razão muito simples: é que o astro português aparece sempre nos jogos “a sério”. Nos quartos-de-final, foi protagonista quase solitário nos dois embates com o Bayern Munique: dos seis golos apontados pelos merengues, marcou cinco. Bateu recordes inacreditáveis – primeiro ultrapassou os 100 golos na Europa, depois chegou mesmo ao patamar “mais de 100” só na Liga dos Campeões. E ontem… pois: mais Ronaldo: foram três!!! os golos com que derrubou o Atlético. Absolutamente impressionante.
Foi preciso esperar apenas dez minutos para ver o CR7 inscrever novamente o seu nome nos marcadores das meias-finais – algo que, curiosamente, a época passada não havia conseguido. Numa jogada de insistência após um canto, Casemiro cruzou para a área e o madeirense, qual “Jardel sobre os centrais” do célebre tema escrito por Carlos Tê e imortalizado por Rui Veloso, bateu pela primeira vez Oblak.
E aos 73’, com o encontro numa fase de incerteza, com ambas as equipas mais preocupadas em não sofrer do que propriamente em marcar – o Real ainda nem tinha rematado à baliza na segunda parte, com o Atlético a somar dois remates para fora –, eis que apareceu o homem intratável: Cristiano Ronaldo, pois claro. A bola surgiu-lhe ali, redondinha e saltitona, depois de Benzema ganhar na luta; Filipe Luís ainda tentou o corte, mas o ressalto ficou com o CR7, que não se fez rogado: com a bola no ar, encheu o pé esquerdo e desferiu um remate absolutamente indefensável.
Mas ainda havia mais por onde pegar. Aos 86’, com o Atlético já completamente em frangalhos, uma insistência do suplente Lucas Vázquez à linha levou a bola para o coração da área. Casemiro deixou passar, e ainda bem, pois lá estava Ronaldo, liberto de marcação e prontinho para finalizar. Na hora da celebração, virou-se para o exigente público do Bernabéu e pediu palmas. Desta vez, foi feita a sua vontade.
Atlético acaba sempre a chorar
Esta é já a quarta edição consecutiva em que Real e Atlético se encontram na Champions. Na primeira, em 2013/14, e na terceira, o ano passado, marcaram presença no embate decisivo: a final. Levaram a melhor os merengues nas duas vezes: em Lisboa, após prolongamento (4-1); em Milão, no desempate por grandes penalidades. Pelo meio (2014/15), o confronto deu-se nos quartos-de-final, e também aí foi o Real a sorrir: ao 0-0 no Calderón, respondeu com um sofrido 1-0 no Bernabéu, com golo do mexicano Chicharito aos 88 minutos, na única vez em que bateu os colchoneros nos 90 minutos regulamentares.
Da final de Milão, disputada há praticamente um ano, só mudaram cinco elementos em relação ao jogo de ontem. No Real, Pepe e Bale ficaram em casa, lesionados, dando lugar a Varane e Isco; no Atlético, também por lesão, Juanfran e Augusto Fernández não viajaram, sendo substituídos no onze por Lucas Hernández e Ferreira-Carrasco – que em 2015/16 saltou do banco ao intervalo para apontar o golo colchonero. Fernando Torres, então titular, cedeu ontem o lugar a Gameiro. E as mudanças ficam por aqui.
O jogo começou bem, com Benzema a desperdiçar uma boa oportunidade na cara de Oblak logo aos oito minutos, pouco antes de Ronaldo inaugurar o marcador. Seguiram-se minutos alucinantes, com uma grande oportunidade para cada lado. Primeiro, o guardião colchonero negou o golo a Varane, após novo canto; depois, foi Navas a sair destemido da baliza e tirar a alegria dos pés de Gameiro. A partir daqui, o jogo acalmou e o intervalo chegou.
A segunda parte começou com uma alteração forçada no Real, com Carvajal a dar o lugar ao faz-tudo Nacho. No Atlético, Simeone nem esperou pela hora de jogo para mexer, colocando Torres e Gaitán, mas nem assim conseguiu resultados. Pelo contrário, Zidane esperou pelos 78’, já com o resultado em 2-0, para trocar Benzema por Vázquez, e os efeitos nem demoraram dez minutos a fazer-se sentir. Hat-trick de Ronaldo e o bilhete para a final de Cardiff praticamente na mão.
Este foi o oitavo encontro entre os arquirrivais de Madrid na prova maior do futebol europeu – quinta vitória para o Real. Sobram dois empates e uma única vitória do Atlético, que remonta já a 1958/59, curiosamente também nas meias-finais. Depois de perder no Bernabéu por 2-1, os colchoneros venceram em casa, obrigando à realização de um terceiro encontro – não vigorava ainda a regra dos golos fora. No jogo de desempate, o Real venceu por 2-1 no La Romareda, em Saragoça, arrancando para o quarto troféu de cinco seguidos. No somatório total, os blancos têm supremacia imensa: nunca foram eliminados pelo rival da capital espanhola, tendo ainda vencido as já citadas duas Ligas dos Campeões nos últimos três anos. Somam 11 troféus em 14 finais, contra três finais perdidas do Atlético.