Não é segredo que as relações entre Marcelo Rebelo de Sousa e Pedro Passos Coelho são no mínimo frias. Passos refere-se a Marcelo como o «dr. Rebelo de Sousa» e o Presidente tem preferido ficar na fotografia otimista de António Costa, fugindo ao diabo anunciado pelo líder do PSD. Mas a distância entre Marcelo e o seu partido pode vir a encurtar-se caso haja uma mudança de liderança.
Nesse cenário, Marcelo Rebelo de Sousa já tem um favorito e não é nenhum dos putativos candidatos a líder que aparecem nas notícias dos jornais. Se tivesse de apostar as suas fichas no próximo líder do PSD, Marcelo escolheria Jorge Moreira da Silva.
«É uma pessoa que ele considera muito», conta ao SOL uma fonte próxima de Rebelo de Sousa, explicando que o Presidente vê em Moreira da Silva qualidades importantes de conhecimento técnico e análise política.
A relação entre Marcelo e Moreira da Silva vem de longe. O agora diretor-geral para a Cooperação e Desenvolvimento junto da OCDE foi apoiante de Rebelo de Sousa no já longínquo Congresso de 1996.
A análise que encantou o PR
Mas foi um discurso de Jorge Moreira da Silva durante a campanha das legislativas que fez Marcelo reforçar a ideia de que o antigo ministro do Ambiente de Passos alia a competência técnica a uma visão política invulgar.
A caravana de campanha andava pelo Norte quando Moreira da Silva fez um discurso que passou despercebido a quase toda a gente, mas não a Marcelo.
«Quem é que podia ser vice-primeiro-ministro de Portugal se a coligação Portugal à Frente não vencesse as eleições? Imaginem, coisa que começa a ser cada vez mais difícil, que o PS vence as eleições, não consegue ter o resultado estável e vira-se para o seu lado preferencial, que é o seu lado esquerdo, vira-se para o Bloco de Esquerda e para o PCP», lançou Moreira da Silva num almoço com militantes em Mesão Frio.
Para Marcelo, era esta a tónica que PSD e CDS deveriam pôr na reta final da campanha para assegurar a maioria absoluta. Mas o discurso de Moreira da Silva acabou por não ter seguimento.
Rebelo de Sousa é que nunca se esqueceu dessas palavras que agora parecem proféticas. E quando Moreira da Silva foi nomeado para a OCDE, teceu-lhe um rasgado elogio no site da Presidência da República. «É mais uma prova da qualidade dos portugueses e um motivo de júbilo para Portugal», escreveu, sublinhando o facto de a nomeação ter acontecido «depois de um concurso internacional com nove meses de duração».
Apesar do entusiasmo do Presidente em relação àquele que era o vice-presidente mais próximo de Passos, é muito pouco provável que Moreira da Silva regresse à luta partidária.
Confortável no posto que conquistou por mérito na OCDE, Moreira da Silva tem andado desligado das lides domésticas, apesar de falar com alguma regularidade com Marcelo Rebelo de Sousa.
Além disso, Moreira da Silva não tem nem nunca teve tropas dentro do partido. Foi líder da JSD, mas ganhou a estrutura depois de ser o número dois de Passos e quando o favorito Nuno Freitas acabou por não ir a votos por preferir acabar o curso de Medicina. «As pessoas reconheciam-lhe mérito, porque era muito trabalhador e no fundo era ele quem fazia os livros que na altura o Pedro Passos Coelho lançava. Mas não entusiasmava ninguém», diz quem se cruzou com ele nessa época na Jota.
O desamor de Marcelo
Uma coisa é certa, Marcelo Rebelo de Sousa não nutre grande entusiasmo pelo estilo de liderança de Passos Coelho, mas também não morre de amores pela ideia de ter Rui Rio à frente do partido.
Contam os mais próximos que Marcelo nunca aceitou a forma como Rio deixou de ser seu secretário-geral no PSD, lançando a notícia para a Lusa quando Rebelo de Sousa estava a meio de um encontro com jornalistas na sede social-democrata sem saber que a informação já era pública.
O mal-estar agravou-se mais recentemente quando Rio e Marcelo protagonizaram um jogo de nervos para ver quem avançaria para a Presidência da República. Rebelo de Sousa deu o primeiro passo e gorou as expectativas de Rui Rio.
No lote dos favoritos de Marcelo Rebelo de Sousa consta ainda outro alto quadro com um currículo impressionante, mas sem bases nem traquejo político: Carlos Moedas.
«Marcelo nunca teve intuição para o partido e não é bom a antecipar líderes», ironiza uma fonte próxima do Presidente, lembrando que Moedas ainda deverá estar «mais dez anos em Bruxelas» e que não tem aparelho que o leve à liderança quando regressar a Portugal.
Rio é o único com hipóteses
«O único que vai concorrer contra Passos Coelho é Rui Rio», vaticina um senador social-democrata, que acha que embora seja cedo para prever o desfecho desta disputa, Rio tem hipóteses de ganhar. «O maior capital de Rio é o desgaste em relação a Passos», analisa a mesma fonte, que considera que o ex-autarca do Porto tem feito bem em não fazer críticas internas em vésperas de autárquicas.
Para já, Rui Rio continua na estrada, mas de forma discreta. Esta semana esteve na Madeira e vai continuar a andar por aí.