António Costa considera que o programa de Emmanuel Macron, o recém-eleito presidente francês, está “muito alinhado” com o seu, particularmente “em matéria europeia”.
O primeiro-ministro português recusou catalogar Macron como “liberal” e preferiu destacar outros pontos do líder do movimento En Marche!: “A posição que tem apresentado em matéria de Europa aposta no reforço da sua componente social e, claramente, numa nova visão da zona euro como espaço de convergência económica. O programa é muito alinhado com as ideias que temos em matéria europeia”, justificou Costa, não referindo a reforma de Macron que veio liberalizar o mercado laboral enquanto este foi ministro da Economia de François Hollande.
“Esperamos que seja possível contar com a França para esse novo impulso para a convergência, algo que é essencial para salvar o euro e, por outro lado, se quisermos também evitar que a extrema-direita continue a crescer”, advertiu.
“Aqueles resultados de domingo em França, que, apesar de tudo, conduziram a uma derrota, têm de retroceder, para que não se volte a passar por aflições”, são, neste momento, a principal preocupação do chefe de governo de Portugal.
A vitória de Macron, por outro lado, não trouxe qualquer motivo de satisfação para a esquerda da esquerda portuguesa.
Para BE e PCP, a exceção resume-se à parte em que essa vitória significou a derrota da extrema-direita da Frente Nacional de Marine Le Pen.
A coordenadora do Bloco, Catarina Martins, veio ontem reafirmar isso mesmo. Foi importante derrotar Le Pen, “mas está tudo por fazer” e só com “um projeto alternativo” se vencerá a extrema-direita.
“Esta é uma batalha que vamos ter já a seguir. Foi importante que Marine Le Pen não tenha ganho as eleições e acho que a esquerda em França fez o que devia fazer para derrotar Le Pen, mas não deixa de ser preocupante e também um sintoma do que é a Europa hoje e porque tantos votos foram para a extrema-direita”, disse.
Para a líder do BE, a segunda volta das eleições francesas “teve a grande vantagem de afastar o fascismo, a xenofobia, da presidência da França”, mas não deixou de lembrar que Macron “é o sistema financeiro”.
“É mais do mesmo e, por isso, para travar a extrema-direita, o que a Europa precisa é de uma política diferente que fale pelo emprego, pelos direitos dos cidadãos e cidadãs”, defendeu.
O PCP avaliou positivamente a derrota do projeto de “extrema-direita e xenofobia” de Marine Le Pen, mas defendeu que a eleição de Macron deve ser encarada como “o aprofundamento das políticas que são causa da atual crise económica e social em França e da manutenção dos fatores que alimentam o crescimento da extrema-direita” neste país.
Para os comunistas, apesar da imagem de “novo”, o movimento de Macron “não representa qualquer ‘virar de página’, mas sim a intensificação do programa de exploração e de retrocesso social em França e de aprofundamento do rumo neoliberal, militarista e federalista da União Europeia”.
A direita pela europa
Tanto o PSD como o CDS saudaram a vitória de Macron pela sua fidelidade programática à União Europeia. Miguel Morgado, deputado do PSD com os assuntos europeus, apontou que ele “foi assumidamente o candidato europeísta, ao contrário de dirigentes políticos que gostam de justificar os seus fracassos com Bruxelas”.
Telmo Correia, do CDS, admitiu que Macron “não é da origem nem do espaço político tradicional” do seu partido, mas o que estava em causa era “uma candidata extremista que não se revê no espaço democrático e não se revê na Europa” ou alguém “europeísta” que defende liberdade e democracia.
“Do ponto de vista europeu, é um bom resultado”, concluiu o centrista.