Porto. PSD será o grande beneficiado nas eleições, diz Manuel dos Santos

Satisfeito por o PS ir a votos em lista própria, eurodeputado socialista arrasa candidato do partido ao Porto. “É uma fuga para o precipício”

O eurodeputado socialista Manuel dos Santos acredita que o PSD será o grande beneficiado pela solução criada pelo PS para as eleições autárquicas no concelho do Porto.

“Prevejo uma grande subida do PSD no Porto. O partido está unido à volta de um candidato independente que, apesar de ser pouco conhecido, não tem anticorpos e é uma figura limpa. No partido estão todos com ele. Rio, Passos, Aguiar-Branco, etc… E toda esta situação tem um responsável, um nome: Manuel Pizarro. O PS acabou por beneficiar o PSD, um partido que estava liquidado e praticamente morto na cidade”, disse em declarações ao i.

A solução encontrada pelo PS depois da rutura entre o movimento que apoia a recandidatura de Rui Moreira e os socialistas gerou em Manuel dos Santos sentimentos contraditórios.

“Por um lado, sinto uma grande satisfação por o PS apresentar uma candidatura própria. Foi o que sempre defendi e pelo que sempre me bati”, assegurou. “Mas, por outro lado, prevejo que o candidato escolhido, Manuel Pizarro, seja uma fuga para o precipício, um enterrar a cabeça na areia.”

E prosseguiu: “O meu objetivo foi conseguido. Sempre fui um crítico feroz da solução de apoio do PS a Rui Moreira.”

Para o atual membro da comissão nacional dos socialistas por inerência (eurodeputado), “o PS, como maior partido autárquico, não pode diluir-se numa candidatura independente em cidades como Lisboa e Porto”.

“Em municípios como estes [Lisboa e Porto] terá sempre de haver uma candidatura do PS. Não nos podemos dar ao luxo de não ir a votos com uma lista socialista”, acentuou.

Contudo, fez saber que não é “contra o apoio do partido a candidatos independentes”.

“Nada tenho contra o PS apoiar independentes, mas em listas socialistas. E no caso do Porto, apesar de algumas reservas, a minha oposição a um apoio a Rui Moreira não tem nada de pessoal. Trata-se apenas de razões de natureza política”, assegurou.

Mas não poupou nas críticas ao líder da federação socialista e agora candidato à câmara local.

“É uma candidatura de recurso, protagonizada pelo grande responsável político por tudo o que se viveu nos últimos dias. Ele tem colocado os interesses pessoais sempre à frente do partido. Agora deveria arcar com as responsabilidades. Mas isso não aconteceu”, lamentou.

Para Manuel dos Santos, só havia dois cenários em relação à questão portuense: “Manuel Pizarro demitia-se, permitindo assim o aparecimento de uma outra figura como, por exemplo, José Luís Carneiro, num processo que seria obrigatoriamente avocado pela direção nacional do PS.” Ou então “o partido enterrava a cabeça na areia e a alternativa encontrada não seria mais do que uma fuga em direção ao precipício. E a solução escolhida foi esta última”.

”Isto tem tudo para correr mal. O responsável por toda esta situação é obrigado a candidatar-se. Temo que desta vez o PS tenha uma votação ainda pior do que a registada há quatro anos, quando ficou pelos 22%. Admito que Manuel Pizarro bata o seu recorde negativo, numa eleição em que Rui Moreira não deverá chegar à maioria absoluta”, previu.

Ainda no campo das previsões, admitiu que o pós-1 de outubro vai obrigar o atual presidente da federação a deixar o cargo, “a bem ou a mal”.

“Vamos cá ver. Se Manuel Pizarro ganhar, até eu me rendo – mas leia-se isto como uma foça de expressão, porque nunca me rendo. Mas se houver lógica, tudo indica que o PS vai ter uma votação mais ou menos próxima do que aconteceu há quatro anos. E isso é um desastre. Numa situação destas, Manuel Pizarro vai ter de sair, a bem ou a mal. Depois, aí até pode ir cair no ombro de Rui Moreira”, atirou.