O título tem contornos mais irónicos no contexto nacional que no contexto europeu. “Portugal – o novo menino bonito ds reformas europeias”, era a consideração que encabeçava um artigo da revista online norte-americana ‘Politico’.
O conteúdo prosseguia altamente noticioso: Wolfgang Schäuble, o controverso ministro das Finanças alemão, terá dito esta semana que Mário Centeno se trata do “Ronaldo do ECOFIN”, a reunião dos governantes com as pastas financeiras da União Europeia.
O artigo, de um órgão de imprensa altamente respeitado em Bruxelas, mencionava o facto de o governo de “coligação de esquerda” ter afastado a possibilidade de sanções e de hoje já não estar “em quebra das regras orçamentais da União Europeia”, tendo também em vista “a devolução de 10 mil milhões de euros ao FMI” [Fundo Monetário Internacional].
O elogio de Schäuble, brinca o ‘Politico’, tem o valor de “ganhar o Eurovisão” para um político.
O líder de bancada do Partido Socialista, Carlos César, não foi na cantiga e disse preferir “reter as últimas observações do sr. ministro das Finanças [alemão], desconsiderando o Estado Português”. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, soltou um “por uma vez não pensou mal” sobre Schäuble.
Crescimento acima do esperado, com exportações
Ontem, MC2,8 – que é o novo CR7 do ECOFIN – deu uma entrevista à agência Reuters antecipando que o crescimento do segundo trimestre deste ano ultrapassaria a barreira dos 3%, para lá do antes previsto. No primeiro trimestre, o governo conseguiu um crescimento económico, precisamente, de 2,8%.
“Todos os indicadores que temos do segundo trimestre mostram uma aceleração homóloga muito significativa do crescimento. Isso pode significar, por exemplo, e esse número vou arriscá-lo, que o crescimento do segundo trimestre venha a ser superior a 3% em termos homólogos dada a aceleração que estamos a assistir”, disse Mário Centeno, ontem. “A partir daí, atingimos patamares da economia, em termos de funcionamento, que mostram tipicamente alguma sustentabilidade”, garantiu.
A ressureição do ministro Centeno
Apesar do Orçamento do Estado de 2017 antecipar um crescimento de 1,8% no conjunto de todo o ano, o ministro português respondeu que “é pacífico” afirmar que ficará acima dos 2%. “Há uma aceleração da atividade, essa aceleração está sustentada em exportações e investimento e é algo que tem condições de permanecer durante vários trimestres”, justifica.
Parece, então, que em quatro meses Centeno foi de ver Marcelo dizer que aceitava a sua manutenção no cargo por “estrito interesse nacional em termos de estabilidade financeira” para ouvir Schäuble elogiá-lo. Ou terá sido um erro de percepção mútua?