A proposta de António Costa para expulsar Manuel dos Santos do PS está a gerar controvérsia. Depois do secretário-geral e outros responsáveis socialistas terem defendido a expulsão, a sanção disciplinar mais grave prevista nos estatutos, alguns socialistas saíram em defesa do eurodeputado socialista com o argumento de que essa não é a tradição do partido.
Ao SOL, António Galamba, ex-dirigente socialista, considera mesmo que «a liberdade de expressão no PS está em risco». Galamba, um dos principais dirigentes socialistas nos tempos de António José Seguro, acusa o secretário-geral do PS de ter «dois pesos e duas medidas», porque «aqueles que são apoiantes de António Costa podem dizer tudo e mais alguma coisa, basta ver o que é escrito nas redes sociais por alguns responsáveis do PS, e outros não podem ter liberdade de expressão. É uma pena que o PS não tenha memória do seu património de liberdade».
O ex-deputado do PS lembra o caso de João Soares, que tal como Manuel dos Santos apoiou António José Seguro nas eleições internas, e foi repreendido publicamente por António Costa depois de ter ameaçado, nas redes sociais, dar «um par de bofetadas» a dois colunistas. Um episódio que acabou com a demissão de João Soares da pasta da Cultura.
Manuel dos Santos ‘tornou-se uma vergonha para o PS’
A polémica começou quando Manuel dos Santos criticou, nas redes sociais, os deputados socialistas do Porto que votaram a favor da candidatura de Lisboa à Agência Europeia do Medicamento. «Entre os deputados socialistas que votaram Lisboa como sede da Agência Europeia do Medicamento esteve Luísa Salgueiro, dita a cigana», escreveu Manuel dos Santos. E acrescentou: «Luísa Salgueiro, dita a cigana e não é só pelo aspeto, paga os favores que recebe com votos alinhados com os centralistas».
António Costa reagiu de imediato e foi implacável. «Há muito que Manuel dos Santos desonra o seu passado. Hoje tornou-se uma vergonha para o PS. Espero que a Comissão Nacional de Jurisdição rapidamente nos liberte da companhia de quem partilha preconceitos racistas».
Outros responsáveis socialistas pediram a expulsão do eurodeputado do PS. Isabel Moreira defendeu «tolerância zero» para estes casos. «O PS não pode deixar passar isto em branco. Não pode».
Manuel Pizarro, candidato do PS à câmara do Porto, escreveu, na sua página de Facebook, que Manuel dos Santos «passou os limites de um partido como o PS» e «quem assim pensa está a mais no PS». Tiago Barbosa Ribeiro, líder do PS/Porto e deputado, também pediu a sanção mais pesada. «O PS ficará muito melhor sem a companhia deste senhor».
A Comissão Nacional de Jurisdição vai avaliar este caso nas próximas semanas. AO SOL, fonte do PS diz apenas que «não há nenhuma decisão» tomada. Manuel dos Santos também não quis falar ao SOL sobre esta polémica, mas ainda não foi contacto para ser ouvido.
João Soares e outros socialista contra expulsão
Manuel dos Santos foi cilindrado nas redes sociais por ter chamado «cigana» a Luísa Salgueiro. Alguns socialistas contestam, porém, que as afirmações do eurodeputado possam levar à sua expulsão. João Soares foi um dos socialistas a alertar, umas horas após a declaração de Costa, que seria «um erro grave» expulsar Manuel dos Santos. «Era o que mais faltava, era que agora, num contexto favorável, com um Governo nosso a governar bem, o PS entrasse num processo de purga interna. Há limites para o absurdo, e para a cultura de intolerância».
O ex-ministro da Cultura escreveu, nas redes sociais – em resposta aos adeptos de uma sanção pesada para o socialista – que «falar em expulsões (…) não tem nada que ver com a tradição do PS. É um absurdo, e um erro político grande». O ex-deputado socialista Ricardo Gonçalves também considerou «um exagero injustificável» equacionar a expulsão. «É um socialista democrata que ajudou a implantar o PS em todo o lado», argumentou.
Manuel Dos Santos justificou, em declarações ao Observador, logo a seguir à polémica a razão de ter chamado cigana à deputada socialista com o argumento de que Luísa Salgueiro «era conhecida, por brincadeira no PS de Matosinhos, por essa expressão, era conhecida como cigana, e eu por isso achei que a podia usar, achei que não seria uma expressão ofensiva».
O eurodeputado garante que não queria «ofender ninguém», mas apenas criticar a posição de Luísa Salgueiro sobre a localização da Agência Europeia do Medicamento. «Ela tinha de tomar uma posição diferente daquela que tomou. Foi isso que me revoltou. Foi uma questão apenas política, não há aqui nada de pessoal contra ela e muito menos contra a comunidade cigana», justificou, em declarações ao Observador, o eurodeputado socialista.