Um marroquino casado com uma bombeira portuguesa foi expulso aquando da vinda do Papa Francisco a Portugal.
O indivíduo, que já estava a ser vigiado, fez várias compras suspeitas de nitratos, substância usada para bombas artesanais. E convenceu a mulher, uma bombeira de Ourém, a tentar infiltrar-se na ambulância que esteve sempre nas proximidades do Papa – o que não conseguiu.
Mas a segurança papal nunca terá estado em risco, pois, na noite em que Francisco participou na bênção das velas Santuário, muitos agentes do SIS e da PJ estavam infiltrados entre os fiéis, vigiando os marroquinos suspeitos e neutralizando todas as hipóteses de uma ação criminosa.
Adiante-se que as forças de segurança suíças, que protegem o Vaticano, também estiveram em contacto permanente com as autoridades portuguesas, pois já tinham alguns cidadãos marroquinos referenciados.
Entretanto, o suspeito de Fátima foi recambiado para o país de origem, enquanto a bombeira foi afastada do serviço e ficou separada do marido.
Curiosamente, um bombista italiano condenado a prisão perpétua e procurado há 40 anos por um atentado em Brescia, seria preso em Fátima em junho, um mês depois da visita papal.
Notícia foi ‘escondida’ intencionalmente
O episódio envolvendo o marroquino não foi noticiado para «Portugal não ficar nas bocas do mundo», como adiantou ao SOL uma fonte policial.
Aliás, o mesmo acontece com os casos de expulsão de suspeitos de terrorismo, atendendo ao impacto negativo que essas notícias poderiam ter em termos de alarme social e, designadamente, para o turismo nacional.
Nos últimos meses, os Serviços de Informação e Segurança (SIS), em colaboração com a PJ e a PSP, detetaram diversos movimentos de alegados terroristas em Portugal, tendo expulso, além do referido marroquino, um jordano.
Igualmente casado com uma portuguesa, o jordano procurava convencer jovens sírios, residentes na zona de Leiria, a participar na execução de atentados em Portugal.
No final do ano passado, um marroquino com residência em Aveiro foi detido em França por suspeitas de estar a preparar um ataque terrorista. O homem estava a ser vigiado pela PJ desde o verão de 2015. Outro marroquino que alegadamente pertencia a esta célula em Aveiro foi extraditado da Alemanha em março e ficou em prisão preventiva.
Já o último Relatório Anual de Segurança Interna dava conta do «agravamento de alguns fatores de risco» de terrorismo nos últimos anos, «indícios estes já detetados no nosso país». O RASI adiantava que o caso identificado não estava «diretamente relacionado com o planeamento e execução de atentados em Portugal, mas sim com o apoio às estruturas terroristas a operar o exterior, em particular na Europa e na região sírio-iraquiana».
O documento referente a 2016, publicado em março, considerava o único caso (presumivelmente o individuo detido em França), como exemplo isolado e pontual. «Não existindo indícios que apontem para a existência de estruturas idênticas a operar de modo permanente em Portugal, considera-se que a emergência de situações similares a esta poderão contribuir para uma alteração do padrão da ameaça terrorista que impende sobre o nosso país».
Muçulmanos colaboram com a Polícia
No combate às movimentações de indivíduos suspeitos de terrorismo, as autoridades portuguesas têm contado com o apoio das suas congéneres marroquinas, italianas, espanholas e francesas.
Nos últimos tempos, o SIS e a PJ também têm vindo a vigiar as mesquitas clandestinas em Lisboa e no Porto, tendo algumas madraças referenciadas.
E, como garantiram ao SOL fontes policiais, a própria comunidade muçulmana tem colaborado com as autoridades portuguesas, relatando os ‘casos desviantes’ de que dá nota.
Após a visita de 12 e 13 de maio a Fátima, o Papa Francisco escreveu a várias autoridades nacionais e locais portuguesas, como o Presidente da República e o presidente da Câmara de Ourém, agradecendo a forma como foi recebido.
Mas, mais do que isso, o Vaticano condecorou as mais altas figuras dos serviços secretos e da Polícia Judiciária, pela forma como garantiram a sua segurança durante a visita – como confirmou ao SOLo cardeal Peter Turkson, número dois do Vaticano, lembrando que o mesmo procedimento foi adotado após as viagens de Francisco aos EUA e Egito.
Este não foi o primeiro atentado falhado contra um Papa em Fátima. A 12 de maio de 1982, o sacerdote espanhol Juan Fernandez Krohn deslocou-se ao santuário com a intenção de ferir João Paulo II com um punhal durante a procissão de velas. As agressões acabaram por ser apenas verbais.