A saga do PSD em Lisboa nas autárquicas de 2017 continua a surpreender. A nova, e inesperada, reviravolta vem da candidata à câmara da capital. Teresa Leal Coelho entrou em choque com a distrital do PSD/Lisboa.
O órgão local dos sociais-democratas é presidido por Pedro Pinto, muito próximo de Passos Coelho, e os nomes apoiados por Teresa para a candidatura a Lisboa colidem com a vontade não apenas da estrutura, mas também do ‘passismo’.
Leal Coelho, que é hoje vice-presidente de Passos no partido, como Pedro Pinto antes foi, apoia indicações para a Assembleia Municipal presidida por José Eduardo Martins oriundas de uma linha bem crítica a Passos Coelho.
Mauro Xavier, que se demitiu de presidente da concelhia do PSD/Lisboa este ano dizendo que não voltaria “a votar Passos”, é um deles. O dominó tem sido semelhante: José Eduardo quer, Teresa deixa, Passos desconfia, distrital contraria.
“É quase impercetível. Quando se tornou candidata recusou reunir com o Mauro; agora, quere-o numa lista”, diz um ‘laranjinha’ da distrital.
Xavier, que foi diretor da campanha de Passos à liderança do PSD em 2010, aproximou-se gradualmente de Rui Rio desde que rompeu definitivamente com a sede nacional – e as suas lealdades mais antigas vão para Pedro Duarte, que é outro crítico de Passos Coelho que também não descarta a ir a congresso.
Uma coisa é, então, certa: ‘passista’ Mauro Xavier não é. E embora isso pareça não incomodar Teresa Leal Coelho, incomoda substancialmente o restante ‘passismo’, nomeadamente a distrital de Pedro Pinto.
“A questão, depois disto, é saber se ela [Teresa] continua com o passismo ou se abandonou mesmo o ninho. A autonomia e o protagonismo da candidatura deram-lhe outra perspetiva”, vê a mesma fonte, que pediu para não ser identificada. O afastamento entre Passos e Leal Coelho é recente e despontou do facto de a também deputada ter acusado André Ventura, candidato à Câmara Municipal de Loures, de discriminação contra a etnia cigana sem antes falar com o líder de partido, que manteve depois o apoio a Ventura.
Ironias da vida laranja
A primeira ironia está no facto de ter sido o próprio Mauro Xavier, enquanto ainda presidente da concelhia, a convidar José Eduardo Martins para coordenador da equipa que elaborou o programa do PSD para Lisboa; cargo que lhe valeu também convite para encabeçar a lista à Assembleia Municipal.
O paradoxo de ter uma íntima de Passos (Leal Coelho) no mesmo boletim de voto que um antigo crítico de Passos (José Eduardo) foi resolvido não pela conversão do crítico, mas pelo distanciamento da íntima.
E há mais nomes propostos por ambos que chocam de frente com o aparelho ‘passista’: Carlos Reis, ex-presidente da JSD/Amadora, advogado e crítico de longa data de Passos Coelho; José Amaral Lopes, crítico de Pedro Pinto e apoiante de Morais Sarmento na busca de “uma alternativa para o PSD”; Alexandra Barreiras Duarte, próxima de Rodrigo Gonçalves que também apoiou Nuno Morais Sarmento nessa ‘alternativa’ interna este Verão.
A outra ironia é Sarmento ter sido candidato à distrital contra Pedro Pinto, que está indigitado diretor de campanha de Leal Coelho.
A lista à Assembleia Municipal ia a votos esta segunda-feira para ser apresentada à secretaria-geral do partido na sexta e ao Tribunal Constitucional na próxima semana. Até, agora nada feito e a votação foi adiada, sabe o i, para a véspera da data limite. O PSD/Lisboa está em ebulição. Outra vez.
Um nadinha mais tranquilos na vereação
Apesar de as notícias que davam conta de António Prôa estar fora da lista de vereadores elegíveis terem causado turbulência interna – Prôa pode ir parar à Assembleia Municipal –, os nomes para candidatos à vereação geram menos controvérsias que a lista para a Assembleia Municipal, ainda que a influência de José Eduardo também aí se veja. O número dois da lista, como candidato a vice-presidente da câmara de Lisboa, João Pedro Costa, já foi seu adjunto e integrou a sua equipa na elaboração do programa.
A restante lista de vereadores deverá ser composta por nomes como Sofia Vala Rocha e Margarida Saavedra, atualmente deputadas municipais, e Rogério Joia, presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal e ex-autarca na junta de freguesia de São Vicente de Fora.
O certo é que o favorito aos lugares elegíveis é o homem de José Eduardo Martins: João Pedro Costa, professor na Faculdade de Arquitetura.
Bailando
José Eduardo tem mantido uma mente aberta no que diz respeito à sua relação com a candidatura do PSD a Lisboa. Em novembro de 2016 disse que a “possibilidade de uma coligação com o CDS” não estava afastada “por ninguém”; em janeiro deste ano afirmou que, afinal, apoiar Assunção Cristas não era “a melhor solução” porque “um independente com apoio do PSD é sempre ganhador”; e chegado o verão está lado a lado com alguém que de independente não tem nada e de ganhador teme-se que tenha pouco: Teresa Leal Coelho.
A expectativa é, aliás, “o maior problema”, garante uma fonte camarária ligada aos sociais-democratas. “Temos muitos nomes e devemos conseguir poucos lugares. As discórdias também vêm por isso”, esclarece.
Em 2013, na última ida às urnas nas autárquicas, o PSD elegeu dez deputados à Assembleia Municipal de Lisboa. Graças a José Eduardo Martins, que é candidato a presidir à Assembleia Municipal, o PSD já tinha um programa distante do ‘passismo’. Agora, a luta interna parece ser para que a lista também não se afaste.