Dezenas de milhares de militares, sobretudo norte-americanos e sul-coreanos, começaram esta segunda-feira o segundo e último grande ensaio do ano de preparação para uma guerra contra a Coreia do Norte que ninguém deseja e cujo fantasma reapareceu há semanas com o vai-e-vem de ameaças entre Donald Trump e Kim Jong-un – até que se desanuviou nos últimos dias.
Os testes que começaram esta segunda podem alterar a trajetória de acalmia, como indicou já a emissora de Pyongyang. “Isto tem como objetivo começar uma guerra nuclear na península coreana a todo o custo”, lançou a KCNA. “A situação afundou-se numa fase crítica por causa da histeria de guerra lançada pelos maníacos da guerra contra o Norte.”
Os ensaios desta semana são uma versão menos intimidante dos exercícios que ocorrem habitualmente na primavera e que, esses sim, mobilizam centenas de veículos, aeronaves, navios e unidades de combate, que disparam balas e mísseis reais.
As atuais manobras Ulchi-Freedom Guardian, por outro lado, são sobretudo realizados à base de simulações de guerra corridas em computadores instalados num enorme bunker sul-coreano, embora também envolvam ensaios de resposta antiterrorismo e, possivelmente, o envio de aeronaves com capacidade nuclear.
Apesar disto, a mobilização de tropas é bem real: há este ano 17.500 soldados americanos – menos do que os habituais 25 mil –, que se juntam a militares de oito outros países.
Terreno novo
Estes são os primeiros ensaios desde que a Coreia do Norte demonstrou que tem engenhos balísticos capazes de atingir grande parte do território americano e que em breve pode colocar-lhes as ogivas nucleares que tanto preocupam Washington e os aliados.
EUA e Coreia do Sul insistem em dizer que os testes são defensivos. O Norte discorda e afirma que são ensaios para uma invasão e para o homicídio da sua liderança.
A mobilização de militares a sul da fronteira é de tal forma inquietante para Pyongyang, que, há dois anos, Kim Jong-un sugeriu interromper os testes nucleares e balísticos a troco de uma moratória de exercícios como os desta semana.
Se o Norte regressar às demonstrações de força com que por vezes responde a estes exercícios, a grande tensão do início do mês voltará também.
Guerra preventiva
Em Washington, aliás, o debate sobre uma possível “guerra preventiva” contra o regime norte-coreano não cessou com o anúncio de Kim Jong-un na semana passada, indicando que iria esperar antes de disparar quatro mísseis de médio-alcance contra o território americano de Guam, como prometeu no momento mais quente das ameaças.
Segundo o “New York Times”, que detalha o debate interno, nunca um plano militar foi tão acesamente discutido no governo americano desde que se preparou a invasão ao Iraque em 2003.
Os grandes responsáveis militares na Casa Branca sugeriram, por exemplo, que a guerra contra o Norte, embora desastrosa, não é impensável, um passo adiante em relação a anteriores governos, forçando o presidente sul-coreano a assegurar que tem poder de veto sobre qualquer plano.
“Podem assegurar-se de que não haverá guerra”, disse Moon Jae-in na semana passada.