Será a soma dos descontentes maior que a dos resignados? No PSD, há quem acredite que sim: os maiores críticos de Pedro Passos Coelho.
No primeiro trimestre de 2018, a liderança do PSD vai a jogo em eleições diretas entre militantes e haverá congresso; de reeleição ou de mudança.
O rosto da possível mudança, que vem tentando recolher apoios desde o início do ano, é Rui Rio.
Depois de não ter visto a ‘vaga de fundo’ que esperava na estrutura social-democrata – uma ausência noticiada na última edição do SOL -, Rio «começou a fazer contas à vida», conta um barão dos ‘laranjas’.
Os apoios de Nuno Morais Sarmento, Paulo Rangel e Pedro Duarte tornam-se mais essenciais se o antigo presidente da Câmara do Porto «quiser mesmo» a liderança de Passos.
«Sem vaga de fundo não se vira um congresso», clarifica a mesma fonte ao SOL, preferindo o anonimato.
E há quem anseie por essa vaga.
Na semana passada, sabe o SOL, Rui Rio e Pedro Duarte chegaram a jantar juntos e estão a afinar estratégias para conseguirem colocar a liderança de Passos em causa, não tendo sido a primeira refeição que partilharam com esse objetivo.
Com a ‘contagem de espingardas’ a adensar-se, Pedro Duarte, ex-líder da JSD e diretor de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais, tem lançado convites dentro do PSD para um «movimento interno».
Diferente do movimento de alternativa Portugal Não Pode Esperar de outro ex-líder da ‘jota’ (Pedro Rodrigues), Duarte tem feito convites numa lógica de reflexão mais intra-partidária do que pública.
«Ele não precisa disso para aparecer. É candidato a presidente da Assembleia Municipal do Porto, tem opinião na comunicação social, tem um grupo estabelecido na estrutura. Isto não é procura de palco, é concentração de poder», conta fonte próxima do mencionado. «Trata-se de ‘engordar o dote’, caso haja mesmo conversas para uma aliança alternativa a Passos».
Os convites, ao que o SOL apurou, têm sido endereçados aos quadros mais jovens de entre os sociais-democratas – numa perspetiva de renovação geracional que Pedro Duarte pretende manter com Passos Coelho e Rui Rio já para além da barreira etária dos 50.
Passos e Rio, que são as certezas mais presumidas para disputar a liderança do PSD no congresso do ano que vem, não deixam, nesse sentido, de poder ver um terceiro nome a abrir espaço: no passismo, para o incumbente, e no norte, para o contestatário.
Embora Duarte saiba que há bases difíceis de conquistar ao aparelho do atual líder – e a sua distância a Rio já tenha sido bem maior – a pressão para avançar não deixa de lá estar: aumenta. Sozinho ou acompanhado.
O outro tempo
Duarte, com sucesso de carreira na Microsoft, nunca descartou a possibilidade de avançar para a liderança – como segundo ou como terceiro nome – nem de assumir uma vice-presidência antes de aí chegar, preservando assim maior autonomia profissional.
O importante, e isso já o disse publicamente, é perceber que hoje «o tempo é outro» e que o partido precisa de «uma alternativa com ideias diferentes e arrojadas».
Em entrevista à SIC, no início deste verão, o ‘laranjinha’ propôs: «Era importante que o PSD, para além de fazer um bom diagnóstico da situação do país, passasse a uma fase de apresentar soluções de futuro para o país. Faltam ideias para o futuro adaptadas a um tempo novo».
Para ele, o partido não pode ficar «agarrado à defesa de uma governação passada, que teve os seus méritos mas é passado».
O semestre que não chegou
Rui Rio é caso diferente, ainda que não distante.
Desde que assumiu a possibilidade de candidatar-se contra Passos em finais do ano passado, executou uma campanha discreta.
Por todo o país, Rio aceitou convites para eventos da Juventude Social-Democrata, do partido e para, em época pré-autárquica, apresentações de candidatos. Tudo, de preferência, sem imprensa. Pela academia, deu conferências em universidades, mas também visitou empresas, sondando empreendedores e apalpando terreno.
A reação, no entanto, foi inferior ao esperado. Passos segurou o aparelho com as antecipações para a liderança do grupo parlamentar e da distrital de Lisboa (a maior do país) e garantiu a sobrevivência imediata às autárquicas.
Perante isso, a necessidade trouxe Pedro Duarte à mesa de Rio. E é essa mesa que pode – ou não – virar a de Passos. Veremos os próximos capítulos.