Depois das manifestações de ontem à porta do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, ou no São João, no Porto, os enfermeiros tencionam voltar a sair à rua no final da greve de cinco dias. Apesar dos avisos da tutela, que considera a greve irregular, mantém-se a mobilização e está a ser convocada uma vigília para sexta-feira junto a São Bento, dia de aniversário do SNS.
Se na rua o protesto foi visível, o impacto da paralisação permanece uma incógnita. Terão sido canceladas cirurgias e consultas, mas não houve balanços oficiais.
O ministério adiantou ao i que o levantamento está a ser feito pelas Administrações Regionais de Saúde. Contactadas, a ARS do Centro informou não ser ainda possível responder às questões. Já Lisboa e Vale do Tejo indicou que a informação deve ser pedida aos hospitais. O i contactou igualmente os maiores hospitais do SNS. Responderam apenas o Centro Hospitalar Lisboa Central e o Garcia de Orta, em Almada. O CHLC, que inclui hospitais como S. José ou a MAC, esclareceu que se registaram algumas ausências, cujo impacto será avaliado posteriormente. Já o Garcia de Orta informou que não se irá pronunciar. “A ARS de Lisboa e Vale do Tejo está a centralizar alguma informação relativa à adesão à greve e fornecerá a informação que considerar pertinente”. Segundo o i apurou, neste hospital a greve levou recém-nascidos por vacinar a serem encaminhados para centros de saúde.
Numa página do Facebook dedicada à luta dos enfermeiros, São Melro era ontem uma das profissionais a manifestar apoio ao protesto. Fez a noite no bloco operatório de Évora e, dos quatro enfermeiros escalados, foi a única grevista – segundo os sindicatos, os enfermeiros em greve podem ser chamados para serviços mínimos.
Ao i, a enfermeira sintetizou os argumentos. “Na prática, recebo quase o mesmo agora, após 19 anos de trabalho e licenciatura feita, que recebia quando comecei a trabalhar sendo bacharel”. São 1200 brutos, a base da carreira de enfermagem que os sindicatos querem aumentar.
São não foi ameaçada com faltas, mas o sindicato garante que estão a ser marcadas. De acordo com o Código do Trabalho, cinco faltas injustificadas podem ser motivo para despedimento. Questionado pelo i sobre se será essa a orientação da tutela, o ministério salientou que os profissionais têm cinco dias para justificar as faltas, “pelo que é prematuro falar de faltas injustificadas”, disse fonte oficial, sublinhando que o ministério “continua aberto ao diálogo”.
Costa prepara reunião
Hoje o ministério reúne-se com o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, que não aderiu à greve. “Se amanhã não houver propostas ou forem insuficientes, a direção nacional do SEP e do SERAM, irão desencadear formas de luta também”, disse José Carlos Martins, do SEP. O alargamento das 35 horas de trabalho na função pública a todos os enfermeiros e uma carreira para os especialistas são as reivindicações centrais do SEP. No final do dia, a “Lusa” avançou que Costa cancelou uma ação de campanha para reunir com o ministro da Saúde e preparar a reunião.