Metade da população adulta não acabou secundário

Apesar dos avanços dos últimos anos, Portugal continua a figurar entre os países onde mais pessoas não foram além da educação primária (30% da população). Cursos profissionais recebem nota positiva da OCDE.

Mais de metade da população adulta portuguesa não completou o ensino secundário e apenas 60% dos estudantes que entram hoje em dia nesse nível de ensino conseguem terminá-lo sem “atrasos excessivos”. Estas são algumas das conclusões do relatório “Education At a Glance 2017”, divulgado ontem pela OCDE.

Apesar dos avanços dos últimos anos, o relatório assinala que em alguns países continua a existir uma taxa elevada de população que não foi além do ensino primário. Portugal, com 30% dos adultos entre os 25 e os 64 anos nesta situação, fica apenas atrás da Turquia Também só um quarto dos adultos concluíram o ensino secundário, que passou a ser obrigatório a partir do ano letivo 2012/2013.

Para aumentar o número de alunos que completam o ensino secundário, o país apostou nos últimos anos em programas vocacionais que permitem aos alunos optar por vias profissionais durante o secundário em vez das áreas humanísticas ou científicas, esforço que é reconhecido pela OCDE neste relatório.

Segundo os autores, ao contrário de outros países, a oferta de cursos profissionais tem sido um sucesso.  Em 2015, 45% dos alunos portugueses matricularam-se nestes programas vocacionais. A taxa de conclusão dos cursos gerais (cursos científico-humanísticos) é de 59% enquanto para os programas vocacionais (cursos profissionais) foi de 64%.

Menos positivo é o abandono escolar. De acordo com a análise, 31% das pessoas entre os 25 e os 34 anos abandonaram a escola sem concluir o secundário, uma das taxas mais altas entre os países analisados, correspondendo a quase ao dobro da média da OCDE.

Em Portugal, 96% dos alunos entre os 15 e os 17 anos estão matriculados no secundário. No entanto, completá-lo é outra história, pois apenas metade o consegue fazer dentro do tempo previsto – os três anos do secundário – comparativamente com a média da OCDE (68%). E  só 61% dos alunos conseguem terminar a escola em cinco anos, quando na média da OCDE este prazo é suficiente para 75% dos estudantes. Portugal tem mesmo uma das maiores taxas de alunos que acabam por ficar pelo caminho, acabando por nunca finalizar o 12.º (35% contra 21% da média dos países da OCDE). 

No ano passado, apenas 24% da população adulta portuguesa tinha estudos superiores. Ainda assim, assinala o relatório, o número de jovens   que prossegue os estudos tem vindo a aumentar desde 2005. E cerca de 15% dos jovens portugueses que terminam uma licenciatura seguem para mestrado.

 

Escolhas profissionais

A OCDE assinala que está a haver uma mudança nas escolhas profissionais dos jovens em Portugal, que parecem estar cada vez mais vocacionados para as áreas de engenharia, indústria e construção, bem como do setor da saúde e bem estar. A nível global, continuam a dominar os canudos em administração, advocacia e os negócios – 23% dos adultos da OCDE entre os 25 e 64 anos têm um diploma numa destas três áreas.

Já prosseguir estudos superiores parece continuar a compensar. Os adultos que tiraram uma licenciatura têm mais hipóteses de encontrar emprego ou a já estarem empregados e ganham, em média, mais 56% do que aqueles que apenas completaram o ensino secundário. A OCDE reforça ainda que as pessoas que prosseguem estudos conseguem mais facilmente recuperar de uma quebra económica e estão em menor risco de depressão. Ainda assim, o estudo assinala que em alguns países – grupo onde se inclui Portugal, Islândia ou Turquia – as taxas de desemprego são bastante uniformes independentemente do nível de ensino.

Não obstante, o número de pessoas que decidem continuar a estudar tem aumentado. No últimos dezasseis anos, adianta a OCDE, a percentagem de adultos entre os 25 e os 34 anos passou de 26% para 43%.

Em Portugal, a subida foi ainda mais marcada, embora fique ainda abaixo da média: no ano 2000, apenas 13% das pessoas nesta faixa etária faziam estudos superiores e em 2016 já um terço dos jovens desta idade (35%) tinha optado por prosseguir os estudos.

Professores mais velhos O relatório demonstra ainda que a espinha dorsal do ensino, os professores, tem vindo a envelhecer significativamente. Portugal não foge à regra: em 2015, quase quatro em cada dez professores (36%) das escolas nacionais da primária ao secundário tinham mais de 50 anos. E só 1% tem menos de 30 anos. Em 2005, o ano usado na comparação da OCDE, apenas 22% dos docentes já tinham celebrado as 50 primaveras e 16% não tinham ainda feito os 30.

Os  salários são também mencionados por serem baixos, o que poder ser um fator de dissuasão.

O estudo concluiu que os vencimentos dos professores não têm vindo a acompanhar o custo de vida e ficam abaixo do que é pago noutras áreas da educação. Em Portugal, o valor real dos salários dos docentes baixou 10% na última década e só na Grécia houve uma maior perda de rendimentos.

Já quando ao investimento em educação, a OCDE destaca o reforço do ensino pré-escolar no país, que se mantém contudo abaixo da média com 79% das crianças de 3 anos e 90% das crianças de quatro anos inscritas nas escolas. “É um passo na direção certa de garantir a educação pré-escolar obrigatória”, diz a OCDE. Quase metade das crianças (47%) estão inscritas em infantários particulares.

*Artigo editado por Marta F. Reis