“A evolução de posições que houve não é suficiente para aquilo que são as nossas propostas”. O anúncio foi feito esta noite num direto no Facebook por José Carlos Martins, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.
Na mesma mensagem, o SEP anunciou que vai convocar uma greve para os dias 3, 4 e 5 de outubro, isto depois de nos últimos dias não ter aderido a paralisação convocada por outros dois sindicatos de enfermagem por estar em negociação com a tutela.
O que falhou depois de António Costa ter cancelado uma ação de campanha para preparar as reuniões com o ministro da Saúde e de ter havido dois dias de negociação, perante as críticas dos sindicatos e enfermeiros que aderiram à greve?
Por agora, não é claro. No Facebook, o dirigente sindical explica que houve um compromisso da parte do governo em repor o pagamento de horas de qualidade (valorização de trabalho noturno e fim de semana) em 2018, assim como em avançar para o alargamento das 35 horas de trabalho na função pública a todos os enfermeiros no próximo ano e criar um “acréscimo salarial transitório” para os enfermeiros especialistas, isto até a uma revisão mais ampla da carreira de enfermagem que o governo remeteu para o próximo ano.
Questionado pelo i sobre que questões ficaram, no atender do SEP, aquém do pretendido, José Carlos Martins remeteu para segunda-feira um esclarecimento mais detalhado. “O ministério ficou de definir alguns aspetos de pormenor num documento que nos vai remeter”, justificou. Questionado sobre se esse documento, então, alterará a decisão de avançar para a greve, o responsável diz que o protesto está convocado. “Já percebemos que aquilo que nos irá ser remetido não atingirá o patamar que exigíamos para não avançar a greve”.
O facto de a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano não estar ainda fechada pode ter pesado no desfecho. O SEP fez também saber que, depois de uma semana de costas voltadas, vai pedir uma reunião com a FENSE, estrutura que congrega o Sindicato dos Enfermeiros e o Sindicato Independente Profissionais de Enfermagem e que dinamizou a greve desta semana.
Manif vai percorrer cinco quilómetros
Amanhã, a coincidir com o dia de aniversário do SNS, a FENSE organiza uma manifestação que terminará junto ao parlamento. Os enfermeiros vão unir-se numa caminhada de cinco quilómetros, desde o Palácio de Belém até à Assembleia da República, dirigindo-se de seguida à residência do primeiro-ministro.
José Carlos Martins, do SEP, recusou qualquer participação a nível sindical quer no último dia de greve quer nesta manif, mas não excluiu aproximações entre as duas estruturas sindicais em novas ações de luta no futuro.
Esta semana, António Costa tinha chegado a antecipar um acordo com os enfermeiros para os próximos dias. “Tem havido uma postura construtiva por parte do Governo para procurar identificar questões que são justas, que são compatíveis com a nossa estratégia orçamental e tendo em conta o equilíbrio que temos de ter entre as diferentes carreiras, entre as carreiras gerais, para não criar situações de desigualdade relativa”, disse o primeiro-ministro.
Na passada sexta-feira, o ministro da Saúde sublinhou que não existe nenhuma guerra entre o governo e os 42 mil profissionais de enfermagem, criticando a postura dos sindicatos que convocaram a greve desta semana, considerada irregular pelo governo por não ter sido cumprido o período de antecedência do pré-aviso. Numa entrevista à SIC, o ministro referia como contraponto as negociações com o Sindicato Independente dos Enfermeiros, que estavam decorrer de forma “serena e construtiva”. Chegaram agora um impasse.