O governo vai apoiar este ano letivo mais cinco bolsas para estudantes do ensino superior de etnia cigana, 30 no total. São mais cinco do que em 2016, ano em que o governo reforçou o apoio a um projeto promovido por associações ligadas à comunidade cigana.
Olga Mariano, de 67 anos, foi uma das mentoras da iniciativa. Todos lhe chamam tia Olga. Era vendedora ambulante até ter ficado viúva. Em 1998, fez uma ação de formação sobre mediadores socioculturais com mulheres africanas e ciganas e decidiu criar a Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas. Nunca estudou na universidade, mas essa foi uma das bandeiras da AMUCIP. Pelo caminho, conheceu Bruno Gonçalves, da Associação de Ciganos de Coimbra, e começaram a estruturar uma forma de ajudar outros jovens e adultos a ter mais oportunidades na área da formação.
O programa Opré Chalavé – “erguei-vos jovens”, em romani – surgiria em 2015, numa parceria da Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres com a Associação Letras Nómadas e cofinanciado pelo programas Cidadania Ativa da Gulbenkian, o Escolhas do Alto Comissariado para as Migrações e a Fundação Montepio.
Na altura, começaram com um grupo piloto de 15 jovens, que apoiaram na ida para o ensino superior, suportando as propinas de oito estudantes. Queriam mostrar que estudar era uma questão de empenho e esforço, mas também de suporte financeiro para não serem forçados a abandonar os cursos.
No ano passado, o programa mudou de nome e passou a ter mais apoio estatal. Já com o nome OPRE – Programa Operacional de Promoção de Educação – o Estado passou a assegurar 25 bolsas. E foi a procura que levou a que este ano abrissem mais cinco vagas, para responder a 30 candidaturas.
O anúncio do aumento das bolsas foi feito ontem pelo ministro-Adjunto, Eduardo Cabrita, numa cerimónia que teve lugar no ISCTE. Cabrita lembrou o seu percurso como “filho de operários”, parabenizou os estudantes pela sua determinação e apelou um maior número de candidaturas nos próximos anos, defendendo ser necessário motivar mais os homens e mulheres desta comunidade “a ter orgulho em aceder ao ensino superior”.
“Queríamos que os nossos meninos e meninas tivessem acesso ao Ensino Superior. Percebemos que tínhamos de construir a casa pelo teto, que eram precisos exemplos do mais alto nível de formação para que inspirassem os mais novos”, explica Olga Mariano.
Maria Teresa Vieira e Priscila Sá são duas das estudantes que levaram mais longe os desejos da mentora. “Entrar para a faculdade era algo que eu nem punha em questão porque não é normal na minha comunidade”, diz Maria Teresa, de 27 anos, do Montijo. “Aos 25 anos, a tia Olga convenceu-me a concorrer através do programa Maiores de 23. Os meus pais sempre me apoiaram e estou muito feliz por estudar Sociologia no ISCTE.”
Bruno Gonçalves resume o objetivo do programa: capacitar. “A sociedade é exigente e é preciso provar aos nossos jovens que é necessário atingir alguns patamares de formação para que sofram menos e possam combater a pobreza, que está tão enraizada na nossa comunidade”, sublinha, lamentando que o preconceito ainda leve alguns jovens a não aproveita resta oportunidade para não serem mais tarde discriminados na procura de emprego ou casa. Uma “clandestinidade étnica” a que muitos jovens ainda se sentem obrigados por causa do estigma.