Quanto valem os salários dos médicos e dos enfermeiros na despesa do Serviço Nacional de Saúde com vencimentos? Na semana passada, em plena greve, o Sindicato dos Enfermeiros atribuiu ao “lóbi médico” as desigualdades de carreira entre as classes. Em entrevista ao i, José Correia Azevedo, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros, disse mesmo que os médicos representam 14% do pessoal e auferem 97% da massa salarial total.
A Ordem dos Médicos veio ontem corrigir as declarações com um estudo solicitado a um economista. Conclui, com base nos últimos dados públicos, que os médicos representam 22% dos recursos humanos no SNS e 45% das despesas remuneratórias.
A análise teve por base dados da Direção-Geral da Administração e do Emprego Público e da Administração Central do Sistema de Saúde. A 31 de março contavam–se 29 504 médicos em funções, 22% do total de profissionais.
O ganho mensal dos médicos (base mais suplementos) foi, em abril, de 3518 euros, o que perfaz uma despesa de 103 milhões de euros/mês, revelam os cálculos com base na DGAEP a que o i teve acesso. De acordo com a análise, trata-se de 45% dos encargos do SNS com recursos humanos, e não 97%.
No mesmo período estavam em funções no SNS 44 180 enfermeiros, 33% do pessoal. O ganho médio mensal é bastante inferior ao dos médicos: 1524 euros. Representa, ainda assim, uma despesa de 67 milhões/mês, uma fatia de 36%, abaixo da dos médicos mas acima do indicado pelo SE.
Ouvido pelo i, José Correia Azevedo manteve os seus números, adiantando que exclui do cálculo os médicos internos por estarem em formação – segundo a informação oficial, excluindo os internos, os cerca de 18 mil médicos especialistas representam efetivamente 14% dos profissionais do SNS, distinção que a Ordem recusa fazer uma vez que se trata de médicos com contrato com os serviços públicos de saúde. Quanto à questão salarial, Azevedo disse ter obtido a informação por via oficial há dois anos. O i já procurou um esclarecimento junto da ACSS, aguardando resposta.
Hoje, os sindicatos de enfermeiros que mobilizaram a greve da semana passada reúnem–se com a tutela. Como o “SOL” avançou, a proposta do governo prevê um esforço financeiro acima de 100 milhões de euros no próximo ano para começar a responder às reivindicações da classe. Com duas novas greves à vista, ontem, a Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais anunciou também que a 12 de outubro haverá uma vigília junto ao ministério.