Autoeuropa. UGT e CGTP entram na corrida

Seis listas estão na corrida à Comissão de Trabalhadores da fábrica de Palmela. Quatro são independentes, uma delas liderada pelo ex-presidente, e duas estão ligadas a sindicatos da CGTP e UGT.

A aposta na continuidade é um dos motivos que levou Fernando Sequeira, coordenador demissionário da Comissão de Trabalhadores (CT) da Autoeuropa a integrar uma das listas para concorrer às eleições da CT da fábrica de Palmela que irão decorrer no próximo dia 3 de outubro. «Tenho de seguir com este projeto. É preciso ter alguém que esteja  por dentro dos assuntos porque a produção do novo modelo automóvel é fundamental para garantir o futuro da empresa», diz o candidato ao SOL.

Mas a esta é preciso somar ainda mais cinco listas candidatas. Ao todo são seis na corrida: quatro indepentes, uma associada à CGTP e outra a UGT. A campanha arranca já na segunda-feira.

 Uma das listas conta com trabalhadores associados ao sindicato SITE Sul, afeto à CGTP, e que esteve por detrás da greve realizada a 30 de agosto, provocando uma paralisação histórica da fábrica de Palmela e impedindo a produção de 400 carros. «É preciso continuar a defender o interesse dos trabalhadores contra as imposições que têm sido feitas de forma a encontrar um acordo para a implementação dos novos horários de laboração contínua», revela ao SOL, fonte do sindicato.

O aparecimento desta lista de trabalhadores ligados ao sindicato não causa surpresa, uma vez que tem sido sido um dos principais rostos contra os novos horários de trabalho. Em causa está a necessidade de trabalhar mais um dia na fábrica de Palmela, de forma a permitir o aumento da produção, que deverá atingir mais de 200 mil automóveis em 2018, o dobro do registado em 2016, graças à chegada do novo modelo, o SUV T-Roc.

A verdade é que a opinião é unânime junto dos trabalhadores e da administração: é preciso que a CT seja eleita para que as negociações possam arrancar. Isto porque a empresa tem como tradição negociar apenas com esta estrutura, seguindo o exemplo vivido na casa mãe, na Alemanha, cuja relação entre trabalhadores e administração se centrou sempre na comissão de trabalhadores, ao ponto de um destes ter lugar na administração.

 

Contratação em marcha

A Autoeuropa recebeu um investimento de 667 milhões de euros na instalação de uma nova plataforma multimodal, que permite a produção de vários modelos. Para fazer face às novas exigências, a fábrica de Palmela já começou a fazer as contratações. A ideia é empregar mais dois mil trabalhadores até ao final do ano, dos quais 750 são para implementar um sexto dia semanal de produção. «O processo está a decorrer normalmente, já entraram alguns trabalhadores para começarem a formação de forma a que no início do próximo ano estar tudo em pleno para arrancar com o terceiro turno», revela ao SOL fonte da empresa.

No final deste processo, o número de trabalhadores irá atingir os 4.735. Um número que até aqui nunca tinha sido atingido. Só em 2000 é que a fábrica de Palmela atingiu os quatro mil colaboradores, mas desde 1995 que o número de trabalhadores varia entre os três mil e os três mil colaboradores, em que o mínimo atingido foi em 2005 (2.709).

 

Ameaça de deslocalização afastada

À medida que nos vamos aproximando do dia D para pôr fim ao braço-de-ferro entre a administração da fábrica e os trabalhadores, as ameaças que foram surgindo sobre o risco de deslocalização de parte da produção para outras fábricas – uma vez que elas competem entre si e todos os critérios contam: desde a qualidade à pontualidade, passando por muitos outros fatores – vai-se dissipando.

Ainda na semana passada, o  presidente executivo da Volkswagen afirmou que esperava que o conflito laboral na fábrica de Palmela estivesse resolvido até outubro e afastou a hipótese de transferir para outro local a produção do novo modelo T-Roc, ao garantir que a marca alemã «não está a considerar outras opções» para assegurar a produção do novo modelo, apresentado no final de agosto.

O presidente executivo disse ainda que a alteração do local de fabrico seria «muito dispendiosa», acrescentando ainda que é possível «vender tantos carros (do novo modelo) quantos Portugal puder produzir». Ou seja, declarações que afastam o cenário de risco apresentado, em agosto, pelo diretor-geral da Autoeuropa, Miguel Sanches, que abria portas para a possibilidade da produção do T-Roc ser, pelo menos parcialmente, deslocalizada. «É um cenário que está em cima da mesa, mas tanto a administração como toda a equipa da Autoeuropa irão fazer o possível para manter toda a produção do carro em Portugal», afirmou  na altura, lembrando ainda que «o T-Roc foi um modelo exclusivamente escolhido para ser produzido na Autoeuropa».

Recorde-se que, durante o mês de agosto, a Autoeuropa começou a produzir o novo modelo, que foi apresentado ao mundo na passada quarta-feira em Itália e será comercializado a partir do último trimestre do ano. O T-Roc irá competir com modelos como o Nissan Juke, o Renault Captur, o Mercedes GLA ou o Seat Arona, também do grupo Volkswagen.

As contas do fabricante são simples: até 2027  deverão existir 11 milhões de veículos desta categoria (SUV) que deverão gerar 40% das vendas da marca nos próximos anos. «Acreditamos que os SUV vão crescer 50% nos próximos 10 anos. Isto afetará todas as regiões, como a Europa, a China e os Estados Unidos. Será um dos segmentos mais procurados», revelou a empresa.

Os primeiros T-Roc serão comercializados a partir de novembro no mercado europeu, seguindo-se a China e os Estados Unidos. Em Portugal, a versão base deste modelo vai custar 25 mil euros, mas na Alemanha o valor será mais baixo, começa nos 20 mil euros.