O terrível momento por que passam as relações diplomáticas entre Portugal e Angola ficou hoje expresso na tomada de posse do novo Presidente. João Lourenço excluiu Portugal da lista dos países com quem quer manter “relações importantes”.
No seu discurso, João Lourenço fez questão de nomear os Estados Unidos, a China, a Rússia, o Reino Unido, a Espanha, a Alemanha, a Itália, e também o Japão e a Coreia do Sul, como países ‘amigos’, cujas relações fazem parte da sua estratégia de governo.
A omissão de Portugal ocorreu perante a presença do Chefe de Estado português, que se dirigiu a Luanda para assistir à tomada de posse do novo Presidente, tendo sido um dos estadistas que gerou a maior reação de uma plateia de milhares de pessoas.
Já os países elencados não se fizeram representar ao mais alto nível na cerimónia.
A omissão confirma, tal como o i noticiou na edição desta terça-feira, que Angola ameaça romper relações diplomáticas com Portugal. O governo angolano enviou uma nota de repúdio ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, em que acusa “as autoridades portuguesas” de enveredarem “por uma via manifestamente política que se traduz num ato inamistoso, incompatível com o espírito e a letra de relações iguais, as únicas que podem pautar o desenvolvimento da amizade e cooperação entre os dois Estados soberanos que se respeitam mutuamente”, lê-se na nota enviada ao ministro Augusto Santos Silva, também presente na tomada de posse de João Lourenço.
Em causa estão as acusações do Ministério Público português ao ex-vice-Presidente angolano Manuel Vicente, no âmbito do processo da ‘Operação Fizz’.
Os angolanos alegam que Manuel Vicente “goza de imunidade, à luz do Direito Internacional e da Constituição angolana”, e só poderá responder perante a justiça angolana.
“O Estado angolano, visando salvaguardar a sua soberania, independência nacional e dignidade, reserva-se ao direito de adotar em defesa das mesmas as medidas pertinentes e necessárias, quer pela via da negociação direta com as autoridades portuguesas, quer através de mecanismos da responsabilidade internacional, em função do contínuo ato internacional ilícito praticado pela República Portuguesa”, refere ainda na nota.
De sublinhar que a ida de Marcelo a Luanda tinha também como objetivo atenuar o clima de tensão entre os dois países, mas, tendo em conta a omissão de Portugal da lista de países com quem Angola quer contar para a sua estratégia governativa, a missão parece não estar a ser bem sucedida.