Passos assume que é candidato a líder no próximo congresso do PSD

“As autárquicas não servem nem para eu me pôr ao fresco nem para dar prova de vida”, disse o ex-PM

Pedro Passos Coelho será recandidato a presidente do PSD depois destas eleições autárquicas, no início do próximo ano.

Ontem, em entrevista à Rádio Renascença, o antigo primeiro–ministro apressou-se a distinguir os resultados das autárquicas da liderança do partido, afirmando: “As eleições autárquicas não servem nem para eu me pôr ao fresco nem para eu fazer provas de vida dentro do PSD”, assegurou. “Quando aparecerem eleições internas, apresentar-me-ei a essas eleições”, continuou, firmando publicamente pela primeira vez que será recandidato a líder. “Não sou de virar a cara e de me pôr ao fresco.”

Com ou sem frescura, os sociais–democratas ficaram a saber que as eleições diretas em que os militantes escolhem o presidente do partido serão em “finais de janeiro, princípios de fevereiro” e que o conselho nacional marcará o congresso do próximo ano “em finais de novembro”. “Encaramos isso com absoluta normalidade e eu também”, garantiu o líder laranja que, ao contrário de Marcelo Rebelo de Sousa, não vê que “as eleições autárquicas marquem o fim de um ciclo político e o início de outro”.

 

Nada preocupado com rio

Sobre mudança, Passos recusou responder a uma questão relacionada com a possibilidade de Rui Rio vir a ser seu adversário, atirando: “Nem sequer vou responder a essa pergunta porque não é a minha preocupação.” Receios com ter Rio como adversário, então, não constam – ou não constaram na conversa com a Renascença.

“Claro que, se o PSD tiver um mau resultado autárquico, isso é mau para a liderança do PSD”, concedeu o presidente do Partido Social Democrata, para quem, todavia, “a liderança do PSD não está em jogo com o resultado destas eleições.”

“Como presidente do PSD, no dia a seguir às eleições, cá estarei para fazer a leitura nacional”, tornou a conceder com nova adversativa, deixando claro que “quem tem responsabilidades de liderança num partido não faz especulações sobre o dia a seguir às eleições”.

A insinuação ficou no ar e Passos não gostou.

Azeredo Lopes considerou “peculiar” como “é que, aparentemente, o PSD parecia conhecer este documento falsamente apresentado como sendo das ‘secretas’”, referindo-se a um relatório citado pelo semanário “Expresso” que deixa várias críticas à sua atuação como ministro no caso do furto de Tancos, e o PSD não gostou da acusação implícita.

“Quando se diz que alguma coisa é fabricada e tem propósitos políticos, a primeira interpretação é que alguém, maldosamente, no espaço político está a querer criar embaraços políticos ao governo. Eu não vejo quem possa ser, mas cabe ao ministro esclarecer”, devolveu Passos Coelho, ontem, à comunicação social. Para o presidente do PSD, o governo, o ministro e o primeiro-ministro têm demonstrado “falta de sentido de Estado” pelo modo como têm “respondido politicamente ao país” sobre Tancos.

“O ministro [Azeredo Lopes] desconversa. Deu praticamente a entender que, afinal, no limite, no absurdo, não se tinha passado nada. Se alguém do PSD tivesse feito declarações desta natureza, o que as pessoas pensariam?”, perguntou, na já citada entrevista à Renascença.

Pedro Delgado Alves, do PS, acusou de volta o PSD de “irresponsabilidade” pela “divulgação e tentativa de credibilização de algo que não tem suporte na realidade” – o relatório revelado pelo “Expresso” este fim de semana.