O PCP tinha apostado muitas fichas nestas eleições autárquicas para chegar à mesa das negociações do Orçamento do Estado com força para exigir mais coisas ao governo. O objetivo era ambicioso, tendo em conta o bom resultado alcançado pelos comunistas em 2013. Jerónimo de Sousa arriscou, queria mais do que as 34 câmaras que a CDU conseguira, e terminou a noite de ontem sem reforço, com menos uma dezena de autarquias, nas palavras do seu secretário-geral, e um semblante carregado que nem o bom resultado em Lisboa, onde o partido manteve os seus dois vereadores, chegou para a habitual interpretação positiva dos comunistas.
“A perda de presidências, que pode atingir nove ou dez, é sobretudo uma perda para as populações que não demorarão a perceber o quão errada foi essa opção”, disse Jerónimo de Sousa, numa mensagem direcionada à má opção das populações que não é hábito entre os comunistas. O que o PCP teme, com esta onda rosa em todo o país é aquilo que já temiam antes, mas ainda não tinham comprovado nas urnas: o sucesso da ‘geringonça’ é bom para António Costa e os socialistas e péssimo para os dois partidos que apoiam a solução de governo.
Estar fora do executivo, se protege os comunistas, também os priva dos louros que o primeiro-ministro tem sabido aproveitar a seu bel proveito. Quando Jerónimo de Sousa afirmou, ontem, “não nos deixamos influenciar por resultados eleitorais”, o que estava verdadeiramente a dizer é que mesmo não tendo o reforço exigido nas urnas, o PCP não vai chegar fragilizado às negociações do orçamento. E é capaz até de pôr em causa o futuro do acordo com os socialistas.