Ontem foi noite de hipérboles entre as hostes do PSD. Nem Pedro Passos Coelho conseguiu fugir a reconhecer que se tratou de “um dos piores resultados de sempre” do partido, assumindo total responsabilidade pelo desfecho do dia eleitoral, mas reiterando a sua decisão de não se demitir: “Mantenho aquilo que disse. Não seria um bom princípio que um presidente do PSD se demitisse em resultado de eleições que não são nacionais”.
No entanto, as vozes sociais-democratas não se calaram com as expressões de desastre. Manuela Ferreira Leite garantiu que ficou “atónita e chocada com os resultados demasiadamente maus”. A ex-líder social-democrata, que chegou a participar numa ação de campanha de Teresa Leal Coelho em Lisboa, foi dura na sua apreciação: “Muitas pessoas não queriam votar no Pedro Passos Coelho e não votaram, por isso, no PSD”.
Que margem de manobra tem Pedro Passos Coelho depois deste desastre eleitoral? Pouco, quase nada, nenhum? “Mantenho aquilo que disse. Não seria um bom princípio que um presidente do PSD se demitisse em resultado de eleições que não são nacionais”, disse no seu discurso e é bem provável que leve até ao fim, isto é até às eleições legislativas de 2019 a sua teimosia em se manter à frente de um partido que parece fragmentado entre diversas fações.
Aquela ideia deixada por Miguel Relvas, numa recente entrevista ao “Expresso”, de que o partido corria o risco de uma “ruralização” ao perder os grandes centros urbanos, ficou à vista nas eleições de ontem, com os péssimos resultados dos sociais-democratas tanto em Lisboa como no Porto. Até ao fecho desta edição, ainda não havia resultados definitivos em relação à capital, não se sabendo se se confirmavam as sondagens e Teresa Leal Coelho tinha mesmo ficado em terceiro lugar atrás de Assunção Cristas. No Porto, a “hecatombe” referida por Marques Mendes aconteceu mesmo, com Álvaro Almeida a cair para metade da percentagem de votos de 2013, ficando com apenas um dos três vereadores, e contribuindo de sobremaneira para a maioria absoluta de Rui Moreira.
Marques Mendes, o antigo líder social-democrata e comentador da SIC , não foi meigo nos adjetivos e chamou-lhe “uma derrocada monumental”, principalmente “em tudo o que são centros urbanos”, levando-o a concluir que se Passos Coelho não se demite da liderança do PSD, “a vida dele vai ser um inferno e vai ter muitas dificuldades numas diretas”. Terça-feira haverá muita análise a fazer no PSD, resta saber se Passos Coelho sobrevive a essa análise com tantas espadas de Dâmocles sobre a cabeça.