PSD. O fim da linha para Passos Coelho

Rui Rio tem o trabalho de casa feito para disputar a liderança, mas o “passismo” anseia por outro nome que não deixe o ex-presidente da Câmara do Porto sozinho na corrida. Calendário da sucessão foi antecipado para dezembro

Pedro Passos Coelho não se demite, mas não se recandidata a líder do PSD. Depois de ter voltado atrás na intenção de concorrer à liderança novamente, Passos pediu um tempo de “reflexão” em consequência dos maus resultados nas autárquicas. E prometeu ser “rápido”. Reflexão feita, decisão tomada. Passos não se recandidata e deixa assim a sua sucessão aberta.

Rui Rio tem o trabalho de casa feito – com contactos no aparelho, uma distrital assumidamente com ele (Aveiro) e pontes feitas com o meio académico e empresarial. A jornada discreta do antigo presidente da Câmara do Porto tem um ano e já não tem capital político para hesitações: esgotou-o em 2010, em 2015 e nas presidenciais, em que receou – e bem – Marcelo Rebelo de Sousa. Resta-lhe avançar e, agora, com a sorte de não ter de enfrentar um líder incumbente. É que as eleições diretas – método que elegerá o novo líder do PSD antes da realização do congresso do início do próximo ano – são um sistema que favorece quem está: e se a hecatombe autárquica do PSD não tivesse tamanha dimensão, favoreceriam Passos Coelho.

Não foi só Rui Rio que andou em contactos. Também a máquina da sede nacional do partido foi segurando o aparelho nos últimos meses – talvez daí a distração nas autárquicas. A antecipação da eleição para a distrital de Lisboa – que lá colocou um indefetível de Passos, Pedro Pinto – foi prova disso. A antecipação da eleição para o grupo parlamentar – que lá colocou outro indefetível de Passos, Hugo Lopes Soares – foi outra prova.

O aparelho esperava, então, que a recandidatura de Passos Coelho fosse inevitável. Assim como Passos esperava que as autárquicas não fossem o que foram. Enganaram-se ambos. E a marcha-atrás consumou-se ontem, quando Passos (ainda incumbente) disse à sua comissão permanente e à sua comissão política nacional que sairia de cena.

O “passismo” que não esmoreceu anseia por um nome que não deixe Rio como candidato único a líder, mas Luís Montenegro, como o i já noticiou ontem, tem hesitado perante a hegemonia do governo do PS e os dois anos que faltam até às próximas legislativas, que têm os socialistas como favoritos evidentes. É Montenegro o herdeiro mais natural e popular do passismo, mas o facto de estar também altamente conotado com um líder em queda faz a máquina olhar para outras opções. Como o i também noticiou ontem, há uma opção senatorial (e boas relações com as bases), Pedro Santana Lopes, e opções mais jovens, mas de menor notoriedade, que não descartam começar a marcar terreno para futuro: quadros da nova geração que sabem que no PSD, na maioria das vezes, é preciso perder primeiro para se ganhar depois. Com Passos, também foi assim.

Ontem, Nuno Morais Sarmento, autoexcluindo-se da corrida, lançou o repto a Santana Lopes, Marques Mendes e… Rui Rio. Para Sarmento, antes de mais, é preciso ouvir estas três personalidades.

Mendes já falou para elogiar a decisão “muito digna” de Passos Coelho. Nada mais.

Santana falou ontem na SIC Notícias e disse… que é muito cedo para se saber o que vai acontecer. “Só passaram dois dias desde as eleições autárquicas. Está tudo a acontecer muito depressa.” E pouco mais adiantou, sem excluir nada.

Quanto a Rio, já não esconde que está na corrida. Esta semana reuniu-se com a velha guarda (Ferreira Leite e Morais Sarmento) e com dois dissidentes dos primeiros tempos do passismo: Ângelo Correia e Feliciano Barreiras Duarte.

José Eduardo Martins, que esteve na São Caetano à Lapa com Teresa Leal Coelho e Passos na noite do rescaldo autárquico, não esteve presente no encontro “rioista”. Paulo Rangel, eurodeputado, veio também ontem demarcar-se do rioismo.

Passos marcou eleições diretas e congresso para dezembro, antecipando o calendário social-democrata, inicialmente previstos para janeiro. Na audiência que teve com Marcelo Rebelo de Sousa, ontem, no Palácio de Belém, conversaram precisamente sobre a última batalha que travará com António Costa: o Orçamento do Estado de 2018. Depois, fecha-se a cortina. Por agora.